A polícia de Avon e Somerset, no Reino Unido, confirmou nesta segunda-feira (30) que abriu uma investigação criminal para apurar os comentários feitos pelas bandas Bob Vylan e Kneecap durante o festival Glastonbury, um dos maiores e mais lendários eventos de música e artes do mundo, que acontece desde 1970.
O caso foi registrado como “incidente de ordem pública” e está sendo avaliado dentro da legislação local, incluindo possíveis crimes de ódio. Um porta-voz resumiu a posição oficial: “Não há lugar na sociedade para discurso de ódio.”
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O que aconteceu no palco?
No sábado (28), o duo de rap punk Bob Vylan, liderado por Pascal Robinson-Foster, puxou coros de “Death, death to the IDF” (“Morte, morte ao IDF”), atacando diretamente as Forças de Defesa de Israel, e ainda afirmou ter trabalhado para um “sionista filho da p”.
Logo depois, o trio irlandês Kneecap seguiu com uma apresentação de tom político, incitando o público a gritar *“F Keir Starmer”**, uma referência direta ao primeiro-ministro britânico e líder do Partido Trabalhista.
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BBC na berlinda
A apresentação de Bob Vylan foi transmitida ao vivo no serviço iPlayer, da BBC. A emissora admitiu que errou ao não cortar o sinal e classificou as falas como “totalmente inaceitáveis” e de tom antissemítico. Em nota, declarou que defende a liberdade de expressão, mas repudia qualquer incitação à violência:
“Milhões de pessoas assistiram ao Glastonbury pela BBC, mas uma apresentação teve comentários profundamente ofensivos. Nossa equipe deveria ter interrompido a transmissão. Lamentamos não ter feito isso.”
A polêmica aumentou a pressão sobre a emissora, que passou a ser cobrada publicamente por autoridades, incluindo o primeiro-ministro Keir Starmer, a agência reguladora Ofcom e a ministra da Cultura, Lisa Nandy. O governo britânico afirmou que não há justificativa para “discurso de ódio tão revoltante”.
Repercussão internacional
Nos Estados Unidos, o governo revogou o visto do Bob Vylan para uma turnê que aconteceria ainda este ano. O embaixador dos EUA no Reino Unido chamou os gritos de uma “vergonha” e declarou: “Estrangeiros que glorificam violência e ódio não são bem-vindos em nosso país.”
Além disso, a agência de talentos UTA, que representava a banda, removeu a página oficial do grupo do seu site.
Reação do festival
A própria organização do Glastonbury Festival se disse “chocada” com as declarações de Bob Vylan no palco. Já membros da comunidade judaica presentes no evento relataram no Parlamento britânico que precisaram criar “espaços seguros” por causa do ambiente de hostilidade.
O que foi dito — literal e contextualmente
Bob Vylan puxou: “Death, death to the IDF” (“Morte, morte ao IDF”), referindo-se às Forças de Defesa de Israel — que são o exército oficial do Estado de Israel, não o povo judeu ou a religião judaica.
“From the river to the sea, Palestine must be, will be free” (“Do rio ao mar, a Palestina deve ser, será livre”). Esse slogan é um lema histórico de movimentos nacionalistas palestinos, que reivindica toda a Palestina histórica “do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo”.
Para críticos, pode implicar o fim do Estado de Israel — interpretado por alguns grupos como potencial negação do direito de autodeterminação dos judeus. Para apoiadores, é um grito de resistência anticolonial.
Já o Kneecap liderou apenas gritos políticos contra o premiê britânico, sem referência direta a judeus como povo ou religião. A postura do grupo é vista como radical pró-Palestina, mas sem discurso antissemita explícito.
Antissionismo ou antissemitismo?
Técnica e juridicamente, “Morte ao IDF” é um ataque antissionista — visa o exército de Israel como instituição estatal, símbolo do projeto sionista, não o povo judeu.
“From the river to the sea” também é antissionista, pois questiona as fronteiras do Estado de Israel. Dependendo do contexto e de quem usa, críticos consideram que pode esbarrar em discurso antissemita se sugerir apagar o direito de existência de Israel como nação.
O que dizem os artistas?
No Instagram, Pascal Robinson-Foster disse estar recebendo apoio e ódio em massa:
“Ensinar nossas crianças a falar alto pelo que querem é o único jeito de melhorar o mundo. Quando ficamos mais velhos, é essencial inspirar as novas gerações a pegar a tocha.”
Já o Kneecap publicou posts defendendo a atenção para a situação em Gaza, sem responder diretamente às críticas.
E agora?
Um grupo de profissionais de TV e cinema do Reino Unido saiu em defesa do Bob Vylan, afirmando que gritar “Death to the IDF” não é ameaça literal, mas protesto político contra ações militares de Israel — o que seria antissionista, não antissemita.
A polícia confirmou que já recebeu mensagens do mundo inteiro, mas pediu para que o público não envie mais denúncias, já que o caso segue em investigação.
Com informações do Guardian