Na Faixa de Gaza, 94% dos hospitais foram destruídos por bombardeios de Israel, enquanto os outros 6% também foram danificados e operam bem abaixo da sua capacidade. O cenário trágico é denunciado por profissionais do Médicos Sem Fronteiras (MSF) que estiveram recentemente em Gaza. Eles classificam o local como um cenário de "terra devastada" pelo exército israelense.
Os médicos também denunciam que o que acontece em Gaza é uma limpeza étnica promovida por Israel.
Te podría interesar
"São atos que podem configurar crime de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio. Quando se proíbe a entrada de alimentos, você está usando o alimento como arma de guerra. Está minando todas as possibilidades de vida, porque não tem água, não tem luz, não tem aquecimento no inverno", afirmou a coordenadora do MSF em Jerusalém Ocidental, Damaris Giuliana.
Ela ainda relatou que Israel "bombardeia hospitais, escolas, proíbe a circulação de veículos, obriga as pessoas a andar quilômetros e quilômetros para buscar a parca quantidade de alimentos e no caminho sofrem ataques de drones, de helicópteros, de tanques de guerra, de atiradores”.
Te podría interesar
As declarações de Giuliana foram feitas durante um encontro com profissionais para analisar a situação humanitária na Faixa de Gaza, na última semana, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro.
Os ataques de Israel à Gaza duram 20 meses e já mataram mais de 50 mil palestinos e deixaram mais de 100 mil feridos. Além dos bombardeios, Israel também proíbe a entrada de ajuda humanitária na região e, quando palestinos vão aos locais em busca de suprimentos, são bombardeados. Em menos de um mês, cerca de 440 pessoas foram mortas e mais de 3 mil ficaram feridas por ataques de Israel enquanto tentavam receber ajuda nos centros de distribuição.
“São 365 quilômetros quadrados para uma população de 2,2 milhões, mas as pessoas estão concentradas em apenas 15% do território. Agora é um território muito menor por conta das ordens de despejo e das regiões militarizadas por Israel. Foi feito um sufocamento”, afirmou a coordenadora.
Necessidades humanas
Israel voltou a bloquear a entrada de ajuda humanitária no dia 2 de março e, no dia 18, encerrou o cessar-fogo, retomando os bombardeios. A enfermeira Ruth Barros, que ficou dois meses, entre o final de fevereiro até o fim de abril, na região norte de Gaza, a mais devastada, relatou que, enquanto o Exército israelense estava permitindo a entrada de suprimentos, os palestinos tinham acesso a alimentos, tentavam reconstruir suas casas e os hospitais retomavam os atendimentos.
“Depois de 2 de março, quando começou o bloqueio à entrada e saída de materiais, a gente teve que começar a racionalizar e a pensar como faria nossas atividades. Só conseguimos trabalhar com o estoque de medicamentos que já estava disponível na região norte”.
“O norte de Gaza está completamente destruído. As pessoas vivem em tendas. As edificações foram destruídas. Todas as unidades de saúde foram devastadas”, completou a enfermeira.
Além dos danos físicos, os bombardeios também causam prejuízos mentais à população, principalmente às crianças, que relatam sintomas de estresse pós-traumático.
“Atuei em zonas de conflito, mas a destruição não chegou ao mesmo nível do que ocorre em Gaza. Estamos falando de falta de água, comida e abrigo. Necessidades humanas básicas estão deterioradas e colapsadas em Gaza. As explosões destruíram as tubulações, então é esgoto a céu aberto, o que traz mais doenças. As pessoas estão fazendo uma refeição por dia, comendo enlatados. A desnutrição aumentou drasticamente”, relata Barros.
O médico generalista Paulo Reis, que ficou na região central de Gaza, reforça a destruição sem precedentes em Gaza. Ele atuou no local de março a maio. O profissional afirma que eram feitas cerca de 20 a 30 cirurgias por dia em vítimas de bombas e tiros. Quando saiu de Gaza, eram 80 pacientes internados no hospital de campanha.
"A grande diferença de Gaza para outros locais de conflitos é o volume. Já trabalhei em zonas de guerra, mas com essa quantidade de vítimas, de explosões, nunca vi assim. Em Gaza, os bombardeios são a toda hora. Não tem um momento que você não escute bomba. Os drones são 24 horas. É tão frequente que as pessoas sequer deixam de conversar, de fazer alguma coisa cotidiana porque uma bomba explodiu relativamente perto”, conta o médico.
*Com informações de Agência Brasil.