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Escárnio: em vez de cassação, Câmara aprova homenagem a Eduardo Bolsonaro por conspiração nos EUA

Deputado abandonou o mandato para articular interferência estrangeira no Brasil, mas ganha moção de solidariedade por "defesa da soberania nacional"

O deputado federal Eduardo Bolsonaro.Créditos: MANDEL NGAN / AFP
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Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) autoriza abertura de inquérito contra Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por conspiração golpista contra o Brasil nos Estados Unidos, a Câmara homenageia o extremista, que é alvo de um pedido de cassação

Nesta terça-feira (27), a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Casa aprovou uma Moção de Solidariedade ao filho de Jair Bolsonaro, que abandonou o mandato para viver nos EUA e articular, junto ao governo Trump, sanções contra o ministro Alexandre de Moraes e outras autoridades brasileiras, com o objetivo de constranger o judiciário e livrar seu pai, réu por tentativa de golpe de Estado, da cadeia. 

Eduardo Bolsonaro vem trabalhando por uma interferência estrangeira no Brasil. Apesar disso, ganhou a homenagem, articulada pelo bolsonarista Zucco (PL-RS), por sua atuação em "defesa da soberania nacional". Um escárnio. 

"O deputado Eduardo Bolsonaro tem exercido, inclusive em interlocução com lideranças internacionais, seu dever como parlamentar de fiscalizar, denunciar abusos e representar os anseios de parcela significativa da população brasileira, especialmente diante de preocupações legítimas com a atuação de autoridades do sistema de Justiça e eventuais excessos que impactem a liberdade e a segurança jurídica no País”, diz trecho da moção. 

"Falsos patriotas"

A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS), presente na sessão que concedeu moção de solidariedade a Eduardo Bolsonaro, protestou contra a homenagem ao parlamentar golpista. 

"A gente sempre soube quem eram os falsos patriotas, mas não há vergonha, o cidadão está nos Estados Unidos fazendo política contra o Brasil, está de forma mentirosa, demagógica, criminosa, promovendo crimes contra a soberania nacional, está lá, nesse momento, lambendo botas do governo da extrema direita do Trump, que aliás deportou os golpistas do 8 de janeiro que estavam escondidos lá nos Estados Unidos", declarou. 

"Essa moção é uma vergonha, essa moção é uma moção de subordinação dos interesses brasileiros. A gente sempre soube quem eram os falsos patriotas, mas aqui fica claro que só usa a bandeira do verde e amarelo para tentar angariar apoio. Mas a hora de defender os interesses nacionais são os primeiros a bater continência para a bandeira dos Estados Unidos e fazer política contra o nosso país", prosseguiu a deputada. 

Veja vídeo: 

Cassação de Eduardo Bolsonaro 

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), anunciou nesta segunda-feira (26) que a legenda vai entrar com uma representação no Conselho de Ética da Casa pedindo a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro (PL-RJ).

"É o momento de defender o nosso país de uma agressão e essa agressão está sendo estimulada por um deputado que ainda tem mandato. Espero que isso aqui tenha consequências e acabe punindo", disse o deputado petista, segundo O Globo. "Na minha representação tem um pedido de prisão preventiva para o Eduardo Bolsonaro. É muito grave o que ele está fazendo, está conspirando contra uma instituição nacional. Não é contra o PT, é contra o Supremo Tribunal Federal."

Segundo Lindbergh, é dever do Conselho de Ética analisar a conduta do parlamentar, mesmo fora do Brasil. “Ele é deputado licenciado, mas ainda assim é deputado”, pontuou.

Inquérito no STF

A iniciativa vem depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter aberto um inquérito, também nesta segunda, para investigar o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro pelos crimes de coação, obstrução de investigação e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Instaurado a pedido do procurador-geral da República Paulo Gonet, o inquérito deve investigar a atuação do parlamentar, hoje nos Estados Unidos, contra autoridades brasileiras.

"As evidências conduzem à ilação de que a busca por sanções internacionais a membros do Poder Judiciário visa a interferir sobre o andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal, em curso contra o sr. Jair Bolsonaro e aliados", diz Gonet em seu pedido.

Nas redes sociais, Eduardo Bolsonaro voltou a atacar a PGR e disse que o Brasil vive um "restado de exceção". "Antes eu era chacota, hoje sou ameaça à democracia. Nos subestimaram e só recentemente acordaram para a gravidade das consequências – por isso estão batendo cabeça", postou.

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