TROCA DE COMANDO

VÍDEO: Nísia Trindade deixa Ministério da Saúde sob fortes aplausos e reconhecimento

Durante encontro de despedida do órgão, socióloga foi exaltada pelos servidores. Padilha, que assume o posto, destacou importância de Nísia à frente da pasta: "símbolo de compromisso e seriedade"

Ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade.Créditos: Rafael Nascimento/Ministério da Saúde
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Nísia Trindade fez história como primeira mulher a ocupar o cargo de ministra da Saúde. Antes disso, já havia deixado sua marca como presidente da Fiocruz durante a pandemia. Ela consolidou um legado de competência técnica e compromisso com a gestão das políticas de saúde, que servidores devolveram sob forte reconhecimento após deixar o Ministério da Saúde.

"Tivemos o papel histórico, como equipe, de reconstruir o Ministério da Saúde, que é esse grande ministério de coordenação do maior sistema universal do mundo, o SUS", disse a ministra ao se despedir dos servidores.

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o momento emocionante em que a agora ex-ministra é aplaudida pelos funcionários. "Muita energia, amor e emoção na despedida dessa grande mulher", escreveu Artur Custódio, mestre saúde pública, no vídeo.

Sua gestão foi marcada pela retomada de políticas públicas e pelo avanço na cobertura vacinal. Em 2024, o Brasil recebeu nova certificação da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) pela erradicação do sarampo, da rubéola e da síndrome da rubéola congênita. A saída acontece em um momento de queda na popularidade do governo Lula.

Nas redes sociais, Alexandre Padilha, que agora assume o cargo de Nísia, exaltou seu trabalho à frente do Ministério. "Tenho profunda admiração e carinho pela minha amiga Nísia Trindade, com quem tive a honra de trabalhar nesses dois anos. Símbolo de compromisso e seriedade à frente da Fiocruz e do Ministériio da Saúde, Nísia deixa um legado de reconstrução do SUS, após anos de gestões negacionistas, que nos custaram centenas de milhares de vidas", disse no X, antigo Twitter.

A crise envolvendo a ministra da Saúde transcende críticas à sua gestão e expõe uma intensa disputa por espaço dentro do governo. A movimentação para sua substituição reflete interesses políticos internos, onde o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, aparece como um dos principais articuladores para uma possível troca de comando na Saúde.

A informação sobre a demissão de Nísia foi divulgada primeiro pela Folha de S.Paulo e confirmada pela coluna. Lula oficializou a troca nesta terça-feira (25) após uma reunião no Palácio do Planalto. Padilha, que já comandou a Saúde no governo Dilma Rousseff, assume a pasta no contexto de uma reforma ministerial que busca fortalecer a base de apoio do governo no Congresso.

A coluna já havia mencionado anteriormente a movimentação que resultaria na ida de Padilha para a Saúde e a indicação de José Guimarães para assumir a Secretaria de Relações Institucionais. O deputado petista foi sondado pelo governo para o posto, reforçando a necessidade de uma articulação mais eficiente com o Congresso. Nos bastidores do Planalto, sua nomeação era vista como praticamente certa.

Disputa interna 

Fontes do Palácio do Planalto indicam que a ofensiva contra Nísia Trindade foi impulsionada por setores que buscavam reorganizar forças na Esplanada dos Ministérios. A articulação para sua saída estava conectada à tentativa de enfraquecer Padilha e, ao mesmo tempo, abrir caminho para que ele reassumisse o Ministério da Saúde, posição que já ocupou no governo Dilma Rousseff.

O fato de o próprio Padilha, conforme relatos obtidos pela coluna, não ter desestimulado essa movimentação chegou a incomodar integrantes da saúde. Porém, na leitura de membros do próprio SRI, consciente de que sua permanência na Secretaria de Relações Institucionais era questionada, Padilha enxergava na Saúde uma alternativa para se manter dentro do governo. O cálculo político era simples: se havia uma ameaça à sua posição atual, garantir um novo espaço manteria sua presença no núcleo decisório de Lula.

Nesse cenário, Nísia Trindade intensificou seus esforços para assegurar sua continuidade no cargo. Nos últimos dias antes da demissão, promoveu atos públicos com a presença do presidente e do vice-presidente Geraldo Alckmin, sinalizando sua capacidade de articulação e resposta às críticas. A estratégia buscava rebater acusações de baixa entrega e demonstrar que havia mais interesses políticos do que falhas administrativas na pressão por sua saída. No entanto, a ofensiva política prevaleceu, e Lula oficializou sua saída nesta terça-feira (25), confirmando Padilha como seu sucessor.

Lula cedeu à pressão 

Após reunião no Palácio do Planalto, Lula comunicou a interlocutores que efetivou a troca de comando na Saúde, tornando Padilha o novo ministro. A mudança ocorre em meio a uma reforma ministerial que se arrasta há meses e reflete a necessidade de garantir maior governabilidade no Congresso. A pasta da Saúde, uma das mais cobiçadas do governo por sua grande execução orçamentária, vinha sendo alvo de disputas entre o PT e o Centrão.

A disputa Ministério da Saúde ilustra mais um capítulo da complexa dinâmica de poder dentro do governo. A disputa entre Nísia Trindade e Alexandre Padilha não se restringia à eficiência da gestão da Saúde, mas refletia um movimento mais amplo de reacomodação de forças na Esplanada. Com a confirmação de Padilha no cargo, Lula busca equilibrar as tensões políticas e reforçar sua base de apoio para os desafios legislativos e eleitorais que se aproximam.

Nísia era a primeira ministra mulher na Saúde

Socióloga com doutorado e mestrado em Ciência Política, Nísia Trindade tem uma grande trajetória acadêmica e de pesquisa e ocupação de cargos de destaque na saúde pública. Entre 2017 e 2022, esteve à frente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tendo papel fundamental no enfrentamento da pandemia de Covid-19, período em que o governo Bolsonaro minimizava a gravidade da crise sanitária e questionava a eficácia das vacinas.

Sua atuação na Fiocruz abriu caminho para sua nomeação como ministra da Saúde no governo Lula, após integrar a equipe de transição. Sem filiação partidária, mas com proximidade ao PT, Nísia conduziu a pasta sob a pressão do centrão, que almejava o cargo. Ao longo de sua gestão, defendeu o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e reestruturou políticas públicas, mas enfrentou desafios internos e críticas dentro do governo.

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