CANDIDATO DA TERCEIRA VIA

Tarcísio expõe elo entre chacina no Rio, candidatura ao Planalto e lobby pró Trump por PL do Terror

Em timing perfeito com a participação de Trump na cúpula das Américas, Tarcísio retomou candidatura à Presidência com a matança de Castro no Rio, uma pauta que une a terceira via e atende aos anseios dos EUA na América Latina.

Tarcísio Gomes de Freitas com o boné MAGA, da campanha de Donald Trump.Créditos: Reprodução de vídeo / Rede X
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Após ameaçar não entrar na disputa presidencial como o "anti-Lula" da Terceira Via, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) usou a chacina promovida pelo colega Cláudio Castro (PL-RJ), que deixou 121 mortos - incluindo 4 policiais - nas comunidades do Alemão e da Penha, para voltar ao jogo ao aglutinar interesses da Faria Lima, do Centrão e da mídia liberal e, de quebra, sinalizar a Donald Trump que encampará o projeto dos EUA no Brasil.

Em declaração nesta segunda-feira (3), ao entregar casas em Guarulhos, o governador paulista expôs o elo entra a matança promovida por Castro no Rio, as eleições de 2026 e o lobby pró Trump em torno do Projeto de Lei 1283/2025, do deputado bolsonarista Danilo Forte (União-CE), que classifica facções criminosas como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) como organizações terroristas - uma demanda da "guerra ao terror" promovida pelos EUA em países com grandes jazidas de petróleo e terras raras.

Ao ser indagado sobre a PEC da Segurança Pública, proposta do governo Lula para atuação integrada das polícias e órgãos de investigação dos Estados sob um comando federal, Tarcísio desdenhou e escancarou os interesses do consórcio da terceira via, capitaneada pela direita, em trazer o tema - considerado o Calcanhar de Aquiles do campo progressista - à tona.

“Eu ainda não vi o texto do projeto de lei que o governo federal mandou, mas a gente tem o PL do (deputado do União-CE) Danilo Forte, que deve ser relatado pelo (secretário de Segurança Pública Guilherme) Derrite agora. Derrite vai ser liberado agora para tomar conta desse projeto. Isso foi combinado com o próprio presidente da Câmara (Hugo Motta)”, disse.

Conforme a Fórum antecipou, Tarcísio vai exonerar Derrite para assumir, no lugar de Nikolas Ferreira (PL-MG), a relatoria do PL do Terror. No acordo, Motta deve colocar a pauta em discussão assim que o deputado bolsonarista entregar o texto final. 

Durante a tramitação do projeto, a direita vai contar com amplo apoio da bancada bolsonarista para promover um levante sobre o tema nas redes sociais. Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta segunda-feira (3) revela que 72% defendem "enquadrar organizações do crime organizado como organizações terroristas", incluindo CV e PCC.

Na entrevista, Tarcísio ainda citou o apoio de governadores de direita em torno da matança promovida por Cláudio Castro que, em jogada eleitoreira, anunciou a criação do "Consórcio da Paz" - na prática, um conluio da direita para fazer lobby em torno do PL pró Trump e antecipar o embate da campanha presidencial em torno da segurança pública.

Segundo o Estadão, Tarcísio afirmou que "o objetivo do consórcio entre os Estados do Sul e do Sudeste é ampliar a adesão de Unidades da Federação para 'dar mais agilidade' ao intercâmbio de informações e garantir que as inteligências atuem de forma integrada" - exatamente o que está descrito na PEC da Segurança, do governo Lula, com o adendo que a proposta incluiria todos os estados, e não só aqueles governados pela direita.

Tarcísio para a Presidência, Derrite para o Estado

Comandando a política de repressão policial no governo paulista, Derrite já tem garantida a candidatura ao Senado, mas já sinalizou que pode entrar na disputa ao governo do Estado caso Tarcísio confirme a candidatura à Presidência.

A exoneração para relatar o PL do Terror foi o sinal dado por Tarcísio de que deve abandonar a disputa no Estado para alçar o deputado, que até a ascensão junto ao bolsonarismo, em 2018, foi acusado de comandar o grupo de extermínio batizado de "Eu sou a morte" em Osasco ao comandar um pelotão da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, a Rota, entre 2013 e 2015. Em 2021, Derrite afirmou que deixou a política "porque eu matei muito ladrão. A real é essa, simples. Pá!".

Nas campanhas, Tarcísio e Derrite devem levar o debate sobre segurança pública como principal bandeira para fazer frente ao que a direita considera o calcanhar de Aquiles do governo Lula e do campo progressista, em uma nova versão do "bandido bom é bandido morto" de Jair Bolsonaro (PL).

Após a chacina no Rio, Tarcísio foi às redes e sinalizou que encampará a guerra ao "terror", assumindo o lobby pró Trump. 

"Não se pode imaginar que esses criminosos não sabem o que fazem ou que são vítimas da sociedade", escreveu, alfinetando Lula pela declaração recente do presidente sobre o tema, usada pela ultradireita. "Eles impõem o terror", segue, revelando o verdadeiro propósito da publicação.

Após citar o general prussiano Carl von Clausewitz, autor do livro Da Guerra - de leitura obrigatória nas colunas militares -, Tarcísio cita a questão das "fronteiras", em mais uma sinalização ao governo dos EUA.

"As armas e drogas comercializadas no país, em sua grande maioria, não são produzidas aqui. Então, como chegaram às comunidades do Rio? Por onde entraram? Isso evidencia o quanto o Estado tem falhado na vigilância de suas fronteiras".

Servilismo a Trump

Nesta segunda-feira (3), um novo fato revelou que a matança nas comunidades da Penha e do Alemão foram premeditadas, em um timing perfeito com a pauta de Donald Trump para a América Latina.

No início de 2025 - enquanto David Gamble, chefe interino da Coordenação de Sanções de Trump tentava, sem sucesso, convencer o governo Lula a classificar as facções como terroristas -, Castro entregou à embaixada dos Estados Unidos no Brasil um dossiê em que escancara que atuará pelo lobby no Brasil.

No documento, intitulado “Análise Estratégica: Inclusão do Comando Vermelho nas listas de sanções e designações dos EUA”, o governador do Rio de Janeiro afirma que “a crescente sofisticação, transnacionalidade e brutalidade do Comando Vermelho colocam esta organização dentro dos critérios estabelecidos pelas autoridades dos EUA para sanções econômicas, designações terroristas e bloqueio de ativos”.

No documento, Castro afirma ainda que designação como organização terrorista “facilitaria pedidos de extradição de chefes do CV refugiados em países como Paraguai e Polícia”, “abriria caminho para parcerias com Interpol, DEA, FBI e ONU no combate às redes de trafico e armamento pesado e “ampliaria o alcance de sanções para empresas de fachada e aliados econômicos do CV no exterior”.

Aliados de Trump, Paraguai e Argentina já estariam em vias de declarar o CV e o PCC organizações terroristas, atendendo às pretensões dos EUA para a América Latina.

Cúpula das Américas

Ao pautar o debate no Brasil, Tarcísio e os governadores da direita seguem o timing definido pelo governo dos EUA. Em dezembro, Trump vai usar a Cúpula das Américas, na República Dominicana, para pressionar os governos latino-americanos a classificarem o crime organizado e o narcotráfico como terrorismo. 

Lula ainda não confirmou presença na reunião, mas deve comandar a divergência com o presidente dos EUA também nesse assunto. 

Nos últimos nove meses, o governo Trump classificou dez grupos do narcotráfico que atuam na América Latina como organizações terroristas, equiparam ao tratamento dado a Al-Qaeda, por exemplo.

A classificação como "organização terrorista" daria aval para incursões armadas dos EUA nos países onde atuam esses grupos. Essa é a estratégia que Trump tem usado, por exemplo, para antecipar a justificativa para uma ação armada na Venezuela, de Nicolás Maduro, considerado pelo governo dos EUA como líder do narcotráfico - assim como Gustavo Petro, na Colômbia. O Brasil, de Lula, pode ser o próximo alvo, se depender de Tarcísio, Castro e o consórcio da Terceira Via.

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