A aposta em uma nova fase industrial, aliada à sustentabilidade, é vista como trunfo para os países do BRICS, segundo aponta um relatório da Zero Carbon Analytics, desenvolvido a pedido do Instituto ClimaInfo. Para os autores, mesmo sem uma articulação robusta, o potencial de cooperação entre os membros pode gerar avanços econômicos, reduzir riscos externos e ampliar o controle sobre matérias-primas.
De acordo com Renata Albuquerque Ribeiro, que participou da pesquisa, ainda falta articulação real entre os governos do bloco. Em entrevista, ela ressaltou que as nações reúnem grande fatia das reservas globais de minerais importantes — como manganês, grafite e níquel —, mas desperdiçam oportunidades por não agir de forma integrada. “Não faltam recursos, falta uma estratégia conjunta”, afirmou.
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Banco do bloco reforça fundos para energia limpa
Um dos instrumentos que podem acelerar essa agenda é o Novo Banco de Desenvolvimento, mais conhecido como Banco dos BRICS. Entre 2015 e 2021, o banco financiou mais de US$ 5 bilhões em ações voltadas ao clima. Para os próximos anos, o objetivo é destinar US$ 30 bilhões a obras de infraestrutura e projetos de baixo carbono, sendo que energias renováveis devem absorver 40% desse valor. Para Renata, a próxima cúpula, que ocorre em julho no Rio de Janeiro, é uma chance de incluir de vez a transição energética como prioridade industrial.
Choque tarifário e oportunidades internas
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Outro ponto citado é o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que podem cortar até US$ 1,5 bilhão em vendas externas brasileiras. Apesar do prejuízo, isso pode impulsionar acordos dentro do BRICS, já que a China tende a redirecionar parte de seu comércio para parceiros do bloco.
No setor de mobilidade, a expansão dos veículos elétricos sinaliza mais negócios dentro do grupo. A China dominou 70% da produção mundial em 2024. No Brasil, a importação desse tipo de automóvel mais que dobrou, alcançando US$ 1,6 bilhão, enquanto as vendas internas dispararam 89%. Para suprir a demanda, a chinesa BYD constrói uma fábrica na Bahia.
Aviação de baixo carbono em alta
Quando o assunto é aviação, Brasil e Índia avançam na produção de combustíveis renováveis. Empresas brasileiras devem iniciar, a partir de 2027, a entrega de até 1,1 bilhão de litros anuais de SAF, apoiadas por US$ 1 bilhão de investimento da Envision Energy, da China. Já a Índia projeta fabricar até 10 bilhões de toneladas desse combustível até 2040, com aportes que podem chegar a US$ 85 bilhões.
Na mesma direção, as Academias de Ciências dos 11 países que formam o BRICS divulgaram recentemente um apelo para consolidar uma rede colaborativa. O foco é acelerar soluções para o clima, tecnologias de energia limpa e desenvolvimento conjunto em inteligência artificial.