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Descoberta do Império Romano ajuda a remontar o colapso de um dos períodos mais misteriosos

Ferimentos e objetos encontrados indicam sepultamento coletivo durante guerra civil entre imperados

Escrito en História el
Professor, jornalista e pesquisador em teorias da democracia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve para Revista Fórum, com foco em temas de sustentabilidade, política e cultura.
Descoberta do Império Romano ajuda a remontar o colapso de um dos períodos mais misteriosos
Escavações em uma biblioteca da Croácia revelaram esqueletos datados de mais de 1.700 anos. Novak et al, Plos One (2025)

Um achado arqueológico na Croácia pode revelar vestígios de um dos períodos mais turbulentos do Império Romano. Pesquisadores identificaram uma vala comum de 1.700 anos com ossadas que possivelmente pertencem a soldados mortos durante a batalha de Mursa, travada em 260 d.C., quando dois imperadores rivais lutavam pelo poder em meio à chamada Crise do Terceiro Século.

O estudo, publicado na revista Plos One e conduzido pelo bioantropólogo Mario Novak, da Universidade de Primorska (Eslovênia), analisou sete esqueletos encontrados durante a construção de uma biblioteca universitária na cidade croata de Osijek — antiga Colonia Aelia Mursa, domínio romano à época.

As datações indicam que todos morreram em um curto intervalo de tempo, e uma moeda cunhada em 251 d.C. foi encontrada junto aos corpos, reforçando a hipótese de um sepultamento coletivo após combate. Entre os esqueletos, quatro eram de homens jovens e três de meia-idade, com sinais de atividade física intensa e fraturas antigas cicatrizadas, típicas de soldados experientes.

Dois dos corpos apresentavam ferimentos mortais: um com perfuração no peito, possivelmente por flecha, e outro com o braço quase decepado por golpe de espada. Testes genéticos indicaram origens diversas — do norte da Europa à Ucrânia e ao Mediterrâneo Oriental —, reforçando o caráter internacional das tropas romanas.

A descoberta é rara: registros diretos de batalhas internas do século 3º são escassos. O período ficou marcado por guerras civis, traições e assassinatos, quando ao menos 26 pessoas diferentes reivindicaram o trono de Roma em menos de 50 anos. Para os arqueólogos, os ossos de Osijek ajudam a reconstruir a violência e o colapso do poder romano, além de revelar a natureza cosmopolita do exército que sustentou o império até o seu declínio.

Fonte: Plos One, Centro de Bioantropologia Aplicada da Universidade de Primorska.

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