A China é um mercado consumidor titânico — e o setor de bebidas alcoólicas segue a mesma lógica de grandeza. Com um público ávido por novidades e por produtos com identidade cultural, o país se mostra um terreno fértil para bebidas artesanais estrangeiras. É nesse cenário que a Remedin, marca de cachaça artesanal de Brasília, deu seus primeiros passos para conquistar o paladar chinês.
Em entrevista à coluna China em Foco, João Chaves, 25 anos, publicitário e sócio-administrador da Remedin, contou como foi sua primeira viagem à China. Entre 22 e 25 de outubro, ele participou da 2ª C-PLPEX, feira internacional que reuniu expositores de países de língua portuguesa na Região Administrativa Especial de Macau.
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Também marcaram presença produtores de cachaça do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, todos com rótulos premiados nacionalmente. Segundo Chaves, o público chinês recebeu a bebida com curiosidade e entusiasmo.
“Apresentamos a cachaça como o elixir da cana-de-açúcar, e, ao degustarem, muitos perceberam que ela tem a mesma complexidade e qualidade de destilados como whisky e conhaque”, contou.
Ele relata que os visitantes ficaram especialmente impressionados com a variedade de aromas e texturas proporcionadas pelas madeiras brasileiras, o que reforça a versatilidade da cachaça. Apesar do interesse, ainda não houve vendas imediatas, o que Chaves atribui ao baixo conhecimento do produto no país.
“A cachaça é nova para eles, mas há um espaço enorme para crescer. O mercado chinês é gigantesco, tanto em volume quanto em valor”, afirmou.
Ele lembra que, entre as cinco marcas de destilados mais valiosas do mundo, quatro são chinesas, todas de baijiu — bebida tradicional feita de sorgo e arroz, símbolo de status e celebração no país.
Em sua primeira visita à China, Chaves se impressionou com a grandiosidade e a diversidade cultural.
“Foi uma experiência incrível — da arquitetura à culinária, tudo é diferente. Há muito o que aprender e apresentar para esse povo”, resumiu.
O maior mercado de bebidas do planeta
Em 2024, segundo dados da Daxue Consulting, a indústria chinesa de bebidas alcoólicas movimentou cerca de US$ 148 bilhões, um crescimento de 9,3% em relação ao ano anterior. Os lucros chegaram a US$ 36 bilhões, um avanço de 7,6%, consolidando a China como o maior mercado do mundo no setor.
O baijiu segue como o destilado mais popular, com teor alcoólico entre 35% e 60%, presente em brindes de negócios, casamentos e cerimônias formais.
Em segundo lugar vem a cerveja, que, apesar de uma leve retração de até 5% em 2024, deve voltar a crescer e ultrapassar 53 bilhões de litros em 2025.
Já os vinhos e drinks prontos (RTDs) ainda ocupam fatias menores do mercado, mas crescem de forma constante, impulsionados por jovens urbanos e consumidores conectados.
Luxo no topo, preço justo na base
O baijiu premium domina o segmento de luxo. Mesmo com uma queda de 5,1% no volume, as vendas subiram 9,6% entre 2022 e 2023, refletindo a busca por rótulos sofisticados e de alto valor simbólico. As garrafas caras viraram símbolos de status, muitas vezes mais exibidas do que consumidas.
Enquanto isso, as destilarias chinesas ampliaram sua presença na faixa intermediária de US$ 14 a US$ 71, lançando rótulos acessíveis voltados ao consumo cotidiano e à venda digital. Essa diversificação de preços tem ajudado a manter o setor aquecido em tempos de economia mais cautelosa.
Quem impulsiona o consumo
Entre os jovens de 18 a 24 anos, cresce o gosto por bebidas leves e criativas — como cervejas artesanais, cidras e RTDs. A chamada “cultura do leve porre” virou fenômeno nas redes sociais, com festivais que misturam música, design e rótulos com baixo teor alcoólico.
Nas grandes cidades, como Pequim, Xangai, Shenzhen, Chengdu e Wuhan, há forte movimento de premiumização, com o aumento do consumo de cervejas especiais e vinhos importados.
Entre as mulheres de 25 a 39 anos, especialmente em grandes polos regionais com rápido crescimento econômico, boa infraestrutura e forte consumo interno, o consumo de drinks leves e prontos para beber cresce rapidamente. O gasto feminino com baijiu também aumentou em plataformas como Taobao, indicando maior presença e poder de compra no setor.
O e-commerce transformou o modo de consumo: plataformas como Tmall, JD.com, Douyin e RedNote, com pagamentos via WeChat Pay e Alipay, tornaram a compra de bebidas uma experiência digital e social, guiada por tendências e influenciadores.
Onde entra a cachaça brasileira
O apetite chinês por novidades e histórias de origem cria um espaço promissor para bebidas artesanais estrangeiras. A Remedin aposta nesse nicho, apresentando sua cachaça artesanal na 2ª C-PLPEX, em Macau, como uma experiência brasileira autêntica e versátil — ideal para caipirinhas e coquetéis autorais, valorizando qualidade, origem e identidade cultural.
O foco é alcançar consumidores urbanos e curiosos por novos sabores, além de bares que buscam rótulos com história e personalidade.
Oportunidades e desafios
O novo consumidor chinês é jovem, conectado e visual. Ele valoriza sabores originais, estética, baixo teor alcoólico e experiências compartilháveis. Feiras como a C-PLPEX aproximam marcas de importadores, bares e plataformas digitais, facilitando o acesso ao mercado.
Os desafios, porém, são grandes: exigem registro, rotulagem adequada, logística eficiente e adaptação ao gosto local. A cachaça ainda é um produto de nicho e precisa ser comunicada como bebida premium e mixável, não apenas como mais um destilado forte.
Um brinde ao futuro
A China continua sendo o maior palco global para bebidas alcoólicas, com o baijiu como protagonista e um público cada vez mais aberto a novas experiências de sabor e origem. Se souber contar sua história e adaptar seu paladar, a cachaça artesanal brasileira tem tudo para conquistar seu espaço nesse copo gigante.
Sobre a C-PLPEX
Realizada entre 22 e 25 de outubro de 2025, em Macau, a 2ª Exposição Econômica e Comercial China–Países de Língua Portuguesa (C-PLPEX) reuniu mais de 85 mil visitantes e 1.100 expositores de quase 30 países, em conjunto com a Feira Internacional de Macau (MIF) e a Exposição de Franquia de Macau (MFE).
Organizado pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), o evento teve como foco aprofundar a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa, incluindo Brasil, Portugal, Angola e Moçambique. Foram realizadas nove conferências temáticas e mais de mil rodadas de negócios, resultando em 140 acordos assinados — 15% deles com países lusófonos.
Participação brasileira
O Brasil teve presença destacada na 2ª C-PLPEX, reforçando sua posição como parceiro estratégico da China em comércio, inovação e sustentabilidade. A delegação reuniu instituições, empresários e produtores de diversos setores, com ênfase em bebidas artesanais e projetos ESG.
A marca Remedin, de Brasília, apresentou sua cachaça artesanal ao público chinês, posicionando o destilado como um produto premium e autêntico, símbolo da identidade e da riqueza sensorial brasileira.
Na esfera institucional, o Grupo Arnone atuou entre os organizadores oficiais do evento, enquanto o Instituto Global ESG coordenou a representação brasileira e firmou um Termo de Cooperação Técnica Internacional com entidades chinesas para promover projetos em sustentabilidade, ecoturismo e economia verde.
A participação brasileira uniu tradição e inovação, combinando o sabor da cachaça artesanal com uma agenda de cooperação tecnológica e ambiental, refletindo a nova fase das relações Brasil–China.