São Paulo, 19 de agosto de 2025. Foi uma noite de horror, mas ao mesmo tempo inesquecível. Parecia algo saído de uma fábula, um conto. De um lado, artistas e integrantes do Teatro de Contêiner Mungunzá. De outro, a Guarda Civil Metropolitana, comandada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), com o aval do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A ordem era – e é ainda – desocupar o espaço, com o pretexto de construir habitações populares no local. Aqui vale um parêntese. A sede do grupo, montado com 11 contêineres marítimos, funciona na Santa Ifigênia, região da Luz, no centro de São Paulo, desde o fim de 2016. Além da atividade teatral, o grupo também mantém em sua sede um ateliê e escola gráfica com bolsas de estudo para a população vulnerável do entorno. A região era conhecida por abrigar a Cracolândia.
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Ao longo dos últimos dez anos, o Teatro de Contêiner Mungunzá foi palco de mais de 4.000 atividades, foi indicado e venceu prêmios nacionais e internacionais por sua inovação.
O prazo e a truculência
Volta a fita. O prazo que a prefeitura deu para entregar o local é na próxima quinta-feira (21). O grupo, com forte apoio da comunidade artística, políticos e admiradores, procura uma solução. Sem explicação alguma, no meio da tarde desta terça-feira (19), surgiram agentes da GCM. O roteiro foi o mesmo de sempre: gás de pimenta, truculência, quebra-quebra, ameaças com balas de borracha, porrada.
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As imagens da violência se espalharam rapidamente pelas redes. O resultado foi que a comunidade de apoiadores correu para o local. De uma hora para a outra, já não havia mais palco e plateia. A multidão, mais uma vez, protagonista da própria história, em uma enorme corrente de proteção em trono do local, bradava um mesmo texto em uníssono: “o contêiner fica!”
A tensão permanente
O pequeno teatro vira, a partir de então, o centro de uma tensão permanente da cidade de São Paulo, a destruição e a ruína contra a invenção e a arte. O cenário de um mesmo triste roteiro que se repete. Em fevereiro deste ano, a administração de Ricardo Nunes demoliu os prédios onde funcionavam o Teatro VentoForte e a Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul, no Parque do Povo, Zona Oeste da cidade. A ação, registrada em vídeo, mostra uma retroescavadeira derrubando as estruturas.
Os artistas afirmaram na ocasião que não foram avisados da operação e que ainda havia materiais no local. Um protesto realizado sobre os escombros do teatro reuniu artistas e políticos com cartazes com as frases "não à demolição da cultura" e "a arte resistirá sempre".
Depois do primeiro ato
No final da noite, Lucas Beda, um dos fundadores do Contêiner, avisa em um vídeo divulgado pelo Instagram que, no dia programado para o despejo, na próxima quinta-feira, a Cia. Mungunzá de Teatro, em um ato heroico, vai manter a sua programação. O espetáculo “Negras Melodias”, ocorrerá às 20 horas. A mobilização, segundo Beda, começará a partir das 18 horas. Todos são convidados/convocados. Este será “um primeiro ato em resposta a violência da prefeitura e estado de São Paulo contra a cultura”.
Serviço
O espetáculo, a princípio, é: “Negras Melodias”
O horário é às 20 horas
Na Rua dos Gusmões, 43 - Santa Ifigênia, São Paulo
Mas você está convidado a chegar na hora que puder e, junto ao Grupo Mungunzá, Tem Sentimento e o Movimento Cultural da Cidade de São Paulo se unir a mais esta luta contra o arbítrio, a truculência e fascismo.