O cantor e compositor Lô Borges, que morreu no último domingo (2), aos 73 anos, deixou ao menos quatro álbuns finalizados, todos com músicas inéditas. Entre eles está o primeiro disco inteiramente composto e letrado por ele — um feito inédito em mais de cinco décadas de carreira.
O primeiro dos projetos prontos é “A estrada”, com letras escritas por seu irmão e parceiro histórico, Márcio Borges. O trabalho está concluído desde 2022, mas o artista planejava lançá-lo apenas em 2026, ano em que Márcio completa 80 anos. A intenção havia sido revelada por Lô em sua última entrevista ao Estado de Minas, em agosto.
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Outros dois álbuns nasceram da parceria com a médica brasiliense Manuela Costa, de 41 anos, que se tornou uma das últimas colaboradoras criativas de Lô. Fã do Clube da Esquina, ela conheceu o músico há duas décadas, durante férias em Belo Horizonte, e manteve com ele uma amizade baseada em trocas de ideias por e-mail.
A parceria com Manuela Costa
O primeiro fruto dessa colaboração foi o álbum “Tobogã” (2024), que inaugurou uma fase de intensa produção. Em apenas três meses, Lô compôs 24 músicas com letras de Manuela. Metade delas formou o disco lançado no ano passado, inspirado no livro Tobogã (1987), de seu pai, Salomão Borges.
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As 12 canções restantes dariam origem ao segundo volume, que o músico chamava informalmente de “Tobogã 2”. Segundo Manuela, o novo álbum homenageia Dona Maricota, mãe de Lô, em faixas como “Passarins na janela”. “O Seu Salomão se referia a ela como sua melhor metade”, contou.
O perfeccionismo do artista, diz Manuela, o fazia passar meses revisando as gravações para decidir a ordem das faixas. O último encontro entre os dois aconteceu em junho de 2023, durante a Cine OP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, quando foi exibido o documentário “Lô Borges – Toda essa água”, de Rodrigo de Oliveira.
Eles planejavam se reencontrar em outubro, em Brasília, onde Lô faria um show com Beto Guedes. Internado, ele acabou sendo substituído por Wagner Tiso. “Falamos pela última vez em 15 de outubro. Ele estava muito feliz, numa fase boa, com o filho recém-instalado no mesmo prédio dele”, lembrou Manuela.
Novas composições e o último registro
A parceria voltou a render em janeiro de 2025, com dez novas canções — seis com letras de Manuela e quatro escritas pelo próprio Lô. A primeira delas, “Cara comum”, traz versos que o músico considerava especiais:
“O vento sempre é bom / Vento é a casa do pássaro.”
“Ele se emocionou muito com esse verso, dizia que o vento era a casa dele”, contou a parceira.
Entre as novas faixas, há registros variados — de um rap dedicado ao filho Luca a canções de clima flamenco, pop e psicodélico, além de homenagens imaginárias a Rita Lee, Ney Matogrosso e John Lennon. A última composição conjunta foi gravada de forma caseira, em agosto, a partir de um poema de Manuela que começa com os versos:
“Dependendo da palavra, rio / Dependendo da palavra, choro.”
O disco inteiramente solo
O quarto e último álbum deixado pronto por Lô Borges é o mais pessoal de todos: dez faixas de letra e música suas, gravadas em 2024. Embora o artista tenha assinado sozinho parte das composições do clássico “disco do tênis” (1972), essa é a primeira vez que um trabalho inteiro traz apenas sua autoria.
Manuela resume o legado do parceiro com emoção: “Ele era um homem de alegria simples, generoso e entusiasmado. Vivia a música com o mesmo encantamento de quando começou.”
Com informações de O Estado de MInas