JUSTIÇA

Defesa de Letícia Sallorenzo anuncia ações contra ataques de 'milícias digitais'

Jornalista e pesquisadora se tornou alvo de bolsonaristas após declarações de Eduardo Tagliaferro

Créditos: Governo do Reino Unido/Reprodução
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Os advogados da jornalista e pesquisadora Letícia Sallorenzo anunciaram em nota divulgada nesta segunda-feira (8) que vão tomar medidas judiciais contra "os ataques, ilações, ameaças e crimes contra a honra perpetrados pelas chamadas milícias digitais" contra ela.

As postagens em redes sociais foram feitas a partir de declarações do ex-servidor público Eduardo Tagliaferro, que trabalhou como assessor do ministro Alexandre de Moraes quando o magistrado estava no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A nota dos defensores alerta para a "propagação de notícias fraudulentas e ao vazamento" dos dados de Letícia, "práticas criminosas disseminadas em perfis que atentam contra a honra, a intimidade e a segurança pessoal".

"Todas as ofensas e conteúdos publicados nas redes sociais estão sendo devidamente certificados e preservados, de modo a instruir as ações judiciais que serão propostas. A defesa adotará todas as medidas cabíveis, nas esferas cível e criminal, a fim de assegurar a responsabilização integral dos envolvidos", pontuam ainda os advogados.

Tagliaferro e o bolsonarismo

Eduardo Tagliaferro chefiou a Assessoria de Enfrentamento à Desinformação do TSE sob comando de Moraes, hoje vive na Itália e foi denunciado em agosto pela Procuradoria-geral da República (PGR) pelo vazamento de mensagens trocadas entre servidores do gabinete do ministro Alexandre de Moraes no STF e no TSE.

O procurador-geral Paulo Gonet denunciou o ex-assessor pelos crimes de violação de sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolve organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Tagliaferro deixou o cargo no gabinete de Moraes depois de ser preso por violência doméstica, sendo detido em 9 de maio de 2023 e exonerado do cargo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no mesmo dia.

Na semana passada, no mesmo dia do início do julgamento do núcleo crucial da trama golpista no STF, participou de uma audiência no Senado, em que acusou Moraes de manipular relatórios para justificar operações contra empresários bolsonaristas em 2022.

Trechos da sua participação foram veiculados nas redes sociais e em veículos aliados de Bolsonaro, buscando afetar a credibilidade do julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). Moraes negou qualquer irregularidade. 
"Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria Geral da República", diz nota do gabinete do ministro.

Denúncia do MP contra o ex-assessor

Na semana passada, a Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo apresentou denúncia contra Tagliaferro e outras 13 pessoas, incluindo o juiz Peter Eckschmiedt, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Eles são acusados de peculato e organização criminosa em um esquema que, segundo o Ministério Público, desviava recursos de heranças não partilhadas e bens de idosos considerados incapazes.

De acordo com a denúncia, Eckschmiedt determinava bloqueios de bens, com base em ações de cobrança a partir de títulos falsificados, em processos da 2ª Vara Cível de Itapevi, na Grande São Paulo, decorrentes de heranças não partilhadas ou de bens de idosos incapazes. Esses valores, posteriormente, seriam transferidos a integrantes da organização. A defesa do magistrado nega qualquer irregularidade.

O Ministério Público afirma que Tagliaferro, descrito como “amigo íntimo” de Eckschmiedt e com “acurado conhecimento de informática e de técnicas eficazes para a realização de limpezas tecnológicas em dispositivos de armazenamento de dados”, teria orientado o juiz e outro servidor a apagar possíveis provas de celulares. Entretanto, um dos investigados enviou à Corregedoria mensagens que expuseram o “modus operandi da organização criminosa”, contribuindo para o avanço das apurações.

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