INDICIAMENTO

PF aponta elo de Bolsonaro com advogado ligado a Trump em ataques contra Moraes

Para investigadores, havia "convergência de interesses na propagação de ações mútuas" entre ambos no sentido de "amplificar ataques direcionados ao Supremo Tribunal Federal (STF)"

Créditos: Isac Nóbrega/PR
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A Polícia Federal identificou diálogos entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o advogado estadunidense Martin de Luca, representante da Trump Media & Technology Group e da plataforma Rumble. Segundo o relatório, as conversas revelam uma articulação e um alinhamento de estratégias para atacar o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente o ministro Alexandre de Moraes.

Martin de Luca, sócio do escritório Boies Schiller Flexner e especialista em litígios internacionais, ganhou notoriedade no Brasil ao representar a Trump Media e a Rumble em processos nos Estados Unidos contra Moraes, sob a alegação de censura. Pouco depois de assumir a defesa, o advogado abriu perfil na rede social X e passou a compartilhar publicações críticas ao ministro.

As mensagens trocadas com Bolsonaro indicam que o ex-presidente recebia diretamente do advogado documentos e petições apresentados na Justiça dos EUA contra Moraes. Durante busca e apreensão em sua residência, a PF encontrou cópias impressas e traduzidas desses documentos na mesa de trabalho de Bolsonaro, o que reforça a suspeita de coordenação prévia.

Orientações a Bolsonaro

O relatório ainda registra que Bolsonaro solicitava orientação a De Luca para a elaboração de notas e postagens em suas redes sociais.

"Martin, peço que você me oriente também, me desculpa aqui tá, minha modéstia, como proceder. Eu fiz uma nota, acho que eu te mandei. Tá certo? Com quatro pequenos parágrafos, boa, elogiando o Trump, falando que a questão de liberdade tá muito acima da questão econômica. A perseguição a meu nome também, coisa que me sinto muito... pô fiquei muito feliz com o Trump, muita gratidão a ele. Me orienta uma nota pequena da tua parte, que eu possa fazer aqui, botar nas minhas mídias, pra chegar a vocês de volta aí. Obrigado aí. Valeu, Martin", diz o ex-presidente em uma das mensagens.

O advogado responde: "Vou mandar hoje a noite mesmo, presidente. Um resumo de como eu acho que pode melhorar a comunicação em relação ao tarifaço".

Interesses comuns

De Luca também enviava links de entrevistas concedidas à imprensa, bem como mensagens alinhadas a narrativas contra o STF. Em várias ocasiões, Bolsonaro replicou esse conteúdo em suas redes, o que a PF interpreta como indício de ações coordenadas entre o ex-presidente e o advogado estrangeiro.

"O contexto indiciário evidencia ações previamente coordenadas entre os interlocutores, com a finalidade de divulgação de narrativas previamente ajustadas. Neste ponto, vale ressaltar que o conjunto de elementos informativos arrecadados pela investigação demonstra liame subjetivo entre o investigado Jair Bolsonaro e o advogado Martin de Luca, representante da plataforma Rumble, diz a PF.

Para os investigadores, o "elemento volitivo comum" entre ambos é qualificado "pela convergência de interesses na propagação de ações mútuas, quais sejam: amplificar ataques direcionados ao Supremo Tribunal Federal (STF), na pessoa do ministro Alexandre de Moraes, de forma a atingir a jurisdição brasileira, atribuindo descrédito ao Poder Judiciário nacional com propósito único de deslegitimação das decisões judiciais que conflitem com interesses comuns entre o ex-presidente e a plataforma Rumble".

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