JORNAL DA FÓRUM

Carlos Minc sobre caso INSS: “Ninguém do governo Bolsonaro foi investigado ou afastado por ele"

Deputado compara atuação dos governos Lula e Bolsonaro em casos de corrupção e destaca que investigação sobre fraudes no INSS partiu de órgãos federais, que tiveram mais autonomia no atual governo

Créditos: Reprodução/Carlos Minc Instagram
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O deputado estadual Carlos Minc (PSB-RJ), geógrafo, professor e ambientalista, afirma que é necessário que a esquerda brasileira retome com força o protagonismo no discurso de combate à corrupção. Em entrevista ao Jornal da Fórum desta segunda-feira (12), Minc destacou que as investigações dos descontos indevidos feitos por associações de aposentadoria no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), também são uma oportunidade para mostrar a autonomia dos órgãos federais em investigações relativas ao próprio Estado, independência que não se tinha no governo Bolsonaro.

Segundo ele, alguns erros de comunicação da esquerda que se arrastam desde as últimas décadas permitiram que a direita e a extrema direita se apropriassem cada vez mais de bandeiras fundamentais, como a da segurança pública e do combate à corrupção na política. “Acabaram permitindo que a direita e a extrema direita se apropriassem de algumas bandeiras como a questão da segurança pública e o combate à corrupção, bandeiras que sempre foram da esquerda”, afirmou ao relembrar a atuação dos movimentos sociais e estudantis no processo de impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

“Quem impediu as primeiras CPIs? Quem pintou a cara para derrubar o Collor? Foi a esquerda”, disse o parlamentar, fazendo referência ao movimento dos caras-pintadas, protagonizado por estudantes que foram às ruas exigir a responsabilização do presidente por denúncias de corrupção.

O deputado ainda lembra que foi justamente durante os governos petistas que instituições como a Polícia Federal e o Ministério Público conquistaram a autonomia necessária para conduzir investigações importantes, inclusive contra membros do próprio governo, como no caso do Mensalão. “A direita foi se apropriando das dificuldades geradas pelo Mensalão do combate à corrupção, mas na verdade 90% dos políticos são da direita”, disse. Minc afirma que diversas operações que resultaram em punições e recuperação de recursos desviados nasceram de ações de órgãos estatais autônomos, e não de denúncias da oposição, como bolsonaristas estão tentando fazer parecer nas redes sociais.

“No terceiro governo Lula, a Polícia Federal agiu de maneira excepcional, a Procuradoria agiu de maneira muito forte. [...] Não partiu de uma denúncia da oposição, mas de uma investigação do governo, de órgãos autônomos”, avaliou.

O parlamentar também comparou o atual cenário com o que ocorreu durante o governo Bolsonaro, criticando a forma como as denúncias foram tratadas pela gestão anterior. “O então ministro Salles, que ajudou a desmatar a Amazônia, foi acusado por um delegado federal de contrabando de madeira. O que aconteceu? Salles foi afastado? Não. Quem foi afastado foi o delegado”, comentou, referindo-se ao ex-superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva.

“Tem uma lista de deputados federais que foram afastados por estarem investigando seriamente membros do governo Bolsonaro. Nenhuma personalidade do governo Bolsonaro foi investigada pelo próprio governo ou afastada. O contrário: os que investigaram essas pessoas que foram afastados. Exatamente o contrário do que está se fazendo agora”

‘Direita tenta tirar casquinha’

O deputado prossegue, e diz que “são órgãos autônomos que descobriram, investigaram, provaram e agora estamos nesse processo, e a direita tenta tirar casquinha, coisa que ela nunca fez.”

"Agora o que eu digo sempre é a: esquerda tem alguma dificuldade em reconquistar a luta do combate à corrupção e eu acho que devemos avançar fortemente nesse caso, como por exemplo nesse caso do Onyx Lorenzoni. Mas independentemente disso, a esquerda que deu autonomia para o MP e a Polícia Federal. Ela tem que reivindicar mais isso fortemente como paladina do combate à corrupção de todas as formas. A gente não pode normalizar a corrupção que é o que está sendo feito agora. 'Doa quem doer', como disse o ministro Haddad, ele foi muito feliz na declaração dele sobre isso", completa o deputado.

O escândalo das fraudes que desviaram mais de 6 bilhões de aposentadorias e pensões, que culminou na demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, no dia 23 de abril, teve início em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, e começou a ser investigado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023 – primeiro ano do terceiro mandato do petista. 

Desde 2019, cerca de R$ 6,3 bilhões foram desviados por meio de descontos não autorizados aplicados sobre aposentadorias e pensões. A investigação começou a ser feita em 2023, logo após Lula assumir a presidência, pela Controladoria-Geral da União (CGU), que identificou o aumento do número de entidades e dos valores descontados dos aposentados. Segundo o órgão, associações e sindicatos descontavam valores de mensalidades diretamente na folha dos beneficiários do INSS, sem que eles soubessem.

LEIA MAIS: Escândalo do INSS começou a ser investigado pelo governo Lula em 2023

Boulos no governo Lula

Sobre as medidas anunciadas pelo governo Lula nesta terça (12), o parlamentar observa avanços. “É o governo na linha que ele nunca saiu: de combate a desigualdade, combater a miséria e promover a inclusão social e econômica. Eu vejo com bons olhos”, afirma.

“No caso do Boulos, é uma pessoa muito comprometida com movimentos sociais, não só dos sem-teto, mas vários outros movimentos, e eu acho que isso é uma coisa que a esquerda nunca deve perder de vista: tem que olhar pra ter maioria ou não ter no parlamento, mas tem que olhar para a sociedade e para os movimentos sociais, o que dá realmente a força para um governo de centro-esquerda, esquerda e progressista é a relação com a sociedade”

Assista a entrevista completa no Jornal da Fórum:

 

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