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Investigação da PF complica situação do GDF e PMDF no caso do 8 de janeiro

Conversas interceptadas apontam que autorização do GDF para o deslocamento dos manifestantes foi considerada elemento estratégico para o avanço das marchas no Distrito Federal

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O deslocamento controlado e a cadeia de autorização

Mensagens interceptadas pela Polícia Federal, atribuídas ao General Mario Fernandes, mostram que o planejamento do deslocamento dos manifestantes para a Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro dependia de uma autorização formal do Governo do Distrito Federal (GDF). O diálogo revela que havia uma preocupação explícita em alinhar a movimentação com as autoridades locais, ao mesmo tempo em que se buscava criar uma narrativa de controle e legitimação dos atos.

No diálogo, o General afirma que "um deslocamento dessa tem que estar autorizado, tem que fazer contato com o GDF." Essa frase deixa claro que a movimentação dos manifestantes era tratada como uma operação que demandava coordenação formal com órgãos responsáveis pela segurança pública do DF. No entanto, como os documentos apontam, a autorização foi concedida diretamente por Cíntia Queiroz, subsecretária do GDF, e pelo Coronel Edva Sousa, sem consulta ao alto comando da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

A relevância estratégica do deslocamento

De acordo com a mensagem do General Mario, a organização do deslocamento não era apenas logística, mas estratégica. Ele menciona que a marcha serviria para pressionar o Legislativo e o Judiciário, citando que "a última mensagem que foi transmitida no dia de ontem, pelas Forças Armadas, foi um aviso claro para o Legislativo que tá inerte, passivo e para o Judiciário, que tá cometendo atos autocráticos e inconstitucionais."

O tom da mensagem sugere que o deslocamento dos manifestantes foi planejado para ter impacto político, utilizando a presença massiva como forma de pressão institucional. Essa abordagem reflete uma preocupação em legitimar o movimento aos olhos das autoridades e, ao mesmo tempo, em evitar que atos de violência fossem associados aos organizadores.

A autorização do GDF e a falta de supervisão

Os documentos obtidos mostram que a autorização para o deslocamento foi concedida por Cíntia Queiroz, subsecretária de Operações Integradas do GDF, e pelo Coronel Edva Sousa, comandante do trânsito da PMDF. No entanto, conforme os autos da Ação Penal 2417 no STF, o Coronel Edva agiu sem comunicar o alto comando da PMDF, o que aponta para uma ruptura na cadeia de comando.

Essa decisão unilateral, combinada com a participação direta do GDF, facilitou a movimentação de manifestantes até a Esplanada, onde ocorreram os atos de invasão e depredação. Até o momento, tanto Cíntia quanto o Coronel Edva não enfrentam responsabilização judicial por essas ações.

A narrativa de controle e infiltração

Outro ponto relevante na mensagem do General é a tentativa de construir uma narrativa que afastasse a responsabilidade dos "patriotas" e atribuísse possíveis tumultos a grupos de oposição. Ele menciona supostas infiltrações de integrantes do MST e do PCC, com o objetivo de desestabilizar o movimento. Essa construção narrativa tinha o claro objetivo de blindar os manifestantes alinhados ideologicamente aos atos de vandalismo.

O General ainda reforça que "é necessária" a realização da marcha, mas que "tem que ter muita certeza, muita segurança, pra que isso não aconteça e seja explorado por essa mídia nojenta da esquerda, como se fosse um ato dos manifestantes, dos patriotas, né."

Implicações e a ausência de responsabilização

O caso evidencia falhas graves na supervisão e no planejamento das ações de segurança pública no dia 8 de janeiro. A necessidade de autorização para o deslocamento, explicitada na mensagem do General, foi atendida de forma isolada por agentes do GDF e da PMDF, sem o envolvimento das lideranças superiores.

A ausência de responsabilização até agora para figuras como Cíntia Queiroz e Coronel Edva Sousa levanta questionamentos sobre a falta de controle institucional e a permissividade na condução dos atos. O deslocamento organizado, ainda que formalmente autorizado, resultou em eventos que colocaram em risco as estruturas democráticas do país.

A conexão entre autorização e narrativa política

A necessidade de autorização para o deslocamento dos manifestantes, destacada nas mensagens, reforça a dimensão política dos atos. Mais do que uma questão operacional, o movimento foi tratado como um instrumento para pressionar instituições democráticas, enquanto os responsáveis locais pela segurança pública facilitaram a movimentação sem o devido alinhamento estratégico.

O episódio escancara a importância de um controle mais rigoroso sobre as decisões de segurança pública em eventos de grande porte e a necessidade de responsabilizar os agentes que contribuíram para o agravamento da crise.

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