As investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado levada a cabo após a derrota do então presidente Jair Bolsonaro (PL) para Lula (PT), na eleição de 2022, mostraram que, para muitos militares de alta patente que participavam da trama, havia um general do Alto Comando do Exército que seria uma espécie de “dedo-duro” da caserna, que contava tudo que sabia dos esquemas envolvendo fardados para o ministro Alexandre de Moraes, que à época também presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O alvo da desconfiança era o general Valério Stumpf Trindade, ex-comandante militar do Sul. Ele foi um dos nomes confirmados entre os generais que se negaram a embarcar no golpe encabeçado por Bolsonaro no final de 2022. Nas conversas, as acusações de ser um “traidor” eram constantes entre os golpistas.
Um sujeito identificado como Riva, que mantinha conversas frequentes com o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, então ajudante de ordens de Bolsonaro, fala abertamente sobre a tal desconfiança de Stumpf.
“Estou escutando a história do Mourão e estou abismadooooooo. Fora os outros GEN [generais do Exército]. Na reunião com o 01 [então presidente Jair Bolsonaro] e o que eles fizeram. Que o Mourão negociou com outros generais a saída do 01 [referindo-se a Bolsonaro outra vez], falando que o Peru era logo ali. Rasgaram o documento que o 01 assinou [o decreto do golpe]. Estava em reunião com o vice da China com relação à Huawei aqui no Brasil. Tinha informante do [emoji de ovo, em alusão a Alexandre de Moraes] de leva e trás (sic)”, diz Riva.
Um outro elemento não identificado entra na conversa e corre para dizer expressamente quem seria o “informante” mencionado por Riva. “Gen [general] Stumph (sic)”, diz. Riva então concorda e completa: “Sim, outro amigo do FHC [o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso]. Negociando cargos no governo para parentes, inclusive”.
Riva segue dizendo a Cid o que pensa do Comandante Militar do Sul: “No meu vago conhecimento e entendimento, isso se assemelha à traição à pátria, lesa pátria. Isso independente de patente. Isso é de embrulhar o estômago”, completa.