Eu estava indo para o norte da França e acabei em Bruxelas.
Sim, graças a estas empresas low cost, a gente mira na capital mas acaba encontrando um voo barato para um aeroporto desconhecido, em outro pais, e com um trem para o meu destino final. Assim não dá para resistir e Bruxelas, que não estava nos planos, acabou entrando na viagem.
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A Bélgica é o país mais low profile que conheço. Pouca gente fala dele, nem se lembra bem dele, mas são líderes ou fundadores de várias tendências e produtos, que a grande parte das pessoas desconhece.
Para começar, vejamos seu lugar na política internacional. Aqui é a capital da Europa, onde se encontram sedes de várias instituições importantes como o Parlamento Europeu e sua presidência, exercida hoje pela controversa Ursula von der Leyen. Resumindo, aqui se reúnem 736 deputados europeus, de 27 países participantes da União Europeia, eleitos diretamente e representando 500 milhões de cidadãos.
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Vamos a temas mais mundanos, como a cerveja.
A Bélgica é o país da cerveja (e não a Alemanha).
Aqui se produz, desde a Idade Média, mais de 450 (a Wikipédia menciona 1500...) tipos de loiras (ruivas e morenas) usando diferentes métodos de fermentação. Hoje, o bar com a maior carta de cervejas do mundo fica na capital belga, Bruxelas, contando com uma carta de mais de 3 mil rótulos e, atenção, cada uma servida em um copo, taça, caneco específico para aquela cerveja, conforme seu aroma, índice alcoólico, temperatura e outros detalhes (que me fogem, por ignorância do tema). Os belgas levam isso de forma muito séria e a Unesco já declarou a cultura cervejeira belga Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Para entender a importância desses números, leve sempre em conta o tamanho deste país, pouco maior do que o estado de Alagoas.
A Bélgica produz um dos melhores chocolates do mundo (na minha opinião, melhores do que os da Suíça). Em Bruxelas você encontra uma boutique de chocolate ao lado da outra. São mais de 2 mil lojas no país, especializadas em marcas famosas ou completamente desconhecidas, que fabricam e vendem mais de 172 mil toneladas anuais desta joia marrom, que faz qualquer mortal babar e alucinar na frente de suas vitrines.
Aqui foi criada a batata frita (e não na França), muito embora se tenha difundido, especialmente pelos norte-americanos, que não são propriamente conhecidos por sua cultura geral, com o nome de French Fries. Não tem nada de francês. Diz a lenda que os habitantes pobres da região de Namur (parte francesa da Bélgica) tradicionalmente comiam peixe frito em fatias finas. No inverno, quando os rios congelavam e não se podia pescar, eles substituíam o peixe por batatas, cortadas e fritas da mesma forma. Seguindo a tradição, as fritas são servidas em um cone de papel coberto com maionese ou 50 opções diferentes de molhos.
Tem mais.
Bruxelas, junto com Barcelona e Paris, é berço do movimento de Arte Nouveau. A cidade é conhecida por diversos edifícios emblemáticos dessa escola arquitetônica e o nome mais famoso é o de Victor Horta, o Gaudi belga.
Não acabou.
Este é o país da História em Quadrinhos, ou Bande Dessinee. Herge, o pai do Tintim, é apenas o mais famoso dos autores belgas, mas são mais de 700 nomes bem conhecidos, o que produz a maior densidade de autor de história em quadrinho por quilômetro quadrado do mundo. E a lista de personagens famosos é extensa: Os Smurfs, Lucky Luke, Gaston Lagaffe, Bake e Mortimer, o Marsupilami e outros. No país existem, além do museu da História em Quadrinhos, vários centros de arquivo e pesquisa para guardar e cuidar desta tradição.
Porém, nem tudo é um mar de rosas. O país está dividido em duas regiões culturais bem diferentes, Flandres e Wallonia, o que provoca uma certa tensão.
Em 1977 ficou definido legalmente a separação em 3 partes autônomas: Flanders, origem alemã/holandesa, onde se fala o flamingo e é culturalmente parecido com a Holanda; Wallonia, origem celta/francesa, onde se fala o francês e Bruxelas, a capital da Europa. As placas de sinalização na cidade são verdadeiras Pedras de Roseta porque estão sempre em Frances, Flamingo e Inglês, e todo mundo fala os 3 idiomas: na loja, no bar, no ônibus.
Desde 1980 foi estabelecido um federalismo com a centralização apenas das decisões relativas à Defesa, Segurança Social, Política Monetária e Relações Internacionais.
Que paradoxo!! Uma região – a União Europeia - que quer ter uma identidade escolhe como sua capital a capital de um país dividido, que não consegue encontrar uma única identidade e fala em separação.
Ou vai ver, é exatamente por isso mesmo!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum