O filme "A Substância" (2024), dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore, narra a trajetória de Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela de Hollywood que, ao completar 50 anos, é demitida de seu programa de ginástica na televisão.
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Desesperada para recuperar sua juventude e relevância, a protagonista recorre a uma substância misteriosa que promete rejuvenescimento e acaba desencadeando consequências inesperadas e perturbadoras.
O longa metragem, disponível na plataforma de streaming Mubi, traz uma crítica incisiva aos padrões estéticos impostos às mulheres e à obsessão pela juventude na sociedade contemporânea.
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Arte têxtil para celebrar corpos femininos
Na capital baiana, Salvador, a exposição "Metamorfoses Poéticas do Feminino", de Alessandra Menezes, aborda temas semelhantes ao longa “A Substância” ao questionar os padrões estéticos impostos às mulheres e a pressão para atender a ideais de beleza.
Em conversa exclusiva com a Fórum, a artista comenta o encontro entre o filme e o seu trabalho. Ela observa que o longa fala muito da questão da ditadura da beleza, a pressão sobre a mulher.
"Na fase inicial da pesquisa, eu falei bastante sobre isso. Depois fui por outros caminhos, mas sempre envolvendo a visão da sociedade sobre a mulher", observa.
Por meio de esculturas têxteis e desenhos, Alessandra explora as transformações corporais femininas resultantes de cirurgias e procedimentos estéticos, estabelecendo um diálogo crítico sobre a ditadura da beleza na sociedade contemporânea.
Inspirada por experiências acadêmicas e artísticas, a mostra explora, por meio de bordados, esculturas têxteis e livros da artista, os desafios impostos às mulheres em um mundo dominado por padrões estéticos e narrativas patriarcais.
“Este trabalho surge de uma linha tensionada entre um corpo cada vez mais idealizado pela sociedade de consumo, supervalorizado em relação à sua forma, e os processos de criação, pensamentos e conceitos relacionados à condição humana, subjetividade e identidade na contemporaneidade, com enfoque no feminino”, explica.
Arte como resistência
Dividida em três eixos – Corpo-essência, Corpo-livre e Corpo-labirinto –, a exposição aborda desde aspectos psicológicos e íntimos até questões existenciais e sociais.
No núcleo “Corpo-essência”, os trabalhos exploram a subjetividade feminina por meio de imagens que retratam memória, desejo e sofrimento.
Já em “Corpo-livre”, a artista discute padrões de beleza, maternidade e feminismo, utilizando obras que misturam aquarela e técnicas têxteis.
Por fim, “Corpo-labirinto” conecta a busca existencial feminina com a mitologia grega, remetendo ao fio de Ariadne como símbolo de liberdade e reconstrução.
Fragmentos que ressignificam
Um dos destaques é a obra “Fragmentos Corporais”, na qual partes do corpo feminino, como seios e braços, são desconstruídas e recombinadas, provocando reflexões sobre o caos e a ordem na percepção do corpo.
A artista utiliza materiais associados ao universo feminino, como fios e agulhas, para criar composições que sugerem novas possibilidades de existência, livres de estereótipos.
O impacto do feminismo
A mostra dialoga com os avanços dos feminismos nas últimas décadas, que deram voz às mulheres e permitiram a desconstrução de identidades opressoras.
Inspirada em autoras como Margareth Rago, Menezes destaca a importância de questionar modelos culturais que aprisionam o feminino e, por meio da arte, promover modos de vida mais libertadores.
Arte e transformação social
“Metamorfoses Poéticas do Feminino” é uma exposição que transcende o espaço artístico para provocar um debate essencial sobre o corpo, a identidade e os desafios enfrentados pelas mulheres. Ao reunir estética e crítica social, a obra de Alessandra reafirma o papel transformador da arte em tempos de profunda reflexão.
Origens do projeto
A origem do projeto remonta a 2021, quando Alessandra, então aluna especial do mestrado, na disciplina "Documentos de percurso- Registros e reflexões em processos criativos" ministrada por Maria Virgínia Gordilho Martins.
Intitulado “Cartas Desenhantes para Corpos Remendados”, o trabalho propunha explorar, por meio de esculturas têxteis, as transformações dos corpos femininos submetidos a cirurgias e procedimentos estéticos, além de debater a ditadura da beleza e a pressão estética sobre as mulheres.
O projeto buscava estabelecer um diálogo entre as figuras representadas e as questões contemporâneas relacionadas à obsessão com a aparência física.
A produção incluiu bustos de mulheres em tecido, inspirados em histórias reais, além de uma série de desenhos, obras que agora integram a exposição “Metamorfoses Poéticas do Feminino”.
Em cartaz em Salvador
A exposição “Metamorfoses Poéticas do Feminino: A Arte que Questiona Estereótipos”, de Alessandra Menezes, é resultado da pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na linha de pesquisa: processos criativos em artes visuais.
Diretora novata e prestigiada
“A Substância”, dirigido por Coralie Fargeat, foi exibido na competição principal do Festival de Cannes de 2024, onde a cineasta francesa recebeu o prêmio de Melhor Roteiro.
Fargeaut iniciou a carreira no cinema trabalhando em sets nos Estados Unidos e na França. Seu primeiro longa-metragem, "Revenge" (2017), é um thriller de vingança que recebeu reconhecimento internacional e prêmios em diversos festivais de cinema independente.
A diretora francesa é conhecida por seu estilo visual ousado e por desafiar normas sociais e estereótipos de gênero em seus trabalhos, explorando temas como o empoderamento feminino e as complexidades da natureza humana.
Questão feminina nas telas e nos tecidos
Tanto o filme de Hollywood quanto a exposição da artista baiana utilizam suas respectivas linguagens artísticas para refletir sobre as expectativas sociais em relação ao corpo feminino e as implicações psicológicas dessas pressões.
Ambos convidam o público a reconsiderar os padrões de beleza e a valorizar a autenticidade e a diversidade das experiências femininas.
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