DITADURA DA BELEZA

Como uma exposição na Bahia dialoga com o novo filme de Demi Moore

Mostra de arte têxtil assinada por Alessandra Menezes, assim como o longa “A Substância”, aborda a ditadura da beleza que sufoca mulheres

Filme de Demi Moore dialoga com mostra na Bahia..Demi Moore em cena do filme "A Substância" e peça da exposição "Metamorfoses Poéticas do Feminino", de Alessandra MenezesCréditos: Divulgação - "A Substância" e "Metamorfoses Poéticas do Feminino"
Escrito en MULHER el

O filme "A Substância" (2024), dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore, narra a trajetória de Elisabeth Sparkle, uma ex-estrela de Hollywood que, ao completar 50 anos, é demitida de seu programa de ginástica na televisão. 

LEIA TAMBÉM: "A Substância", com Demi Moore, é um acontecimento! – Por Filippo Pitanga

Desesperada para recuperar sua juventude e relevância, a protagonista recorre a uma substância misteriosa que promete rejuvenescimento e acaba desencadeando consequências inesperadas e perturbadoras. 

O longa metragem, disponível na plataforma de streaming Mubi, traz uma crítica incisiva aos padrões estéticos impostos às mulheres e à obsessão pela juventude na sociedade contemporânea. 

Assista ao trailer

Arte têxtil para celebrar corpos femininos

Divulgação - exposição "Metamorfoses Poéticas do Feminino"

Na capital baiana, Salvador, a exposição "Metamorfoses Poéticas do Feminino", de Alessandra Menezes, aborda temas semelhantes ao longa “A Substância” ao questionar os padrões estéticos impostos às mulheres e a pressão para atender a ideais de beleza

Em conversa exclusiva com a Fórum, a artista comenta o encontro entre o filme e o seu trabalho. Ela observa que o longa fala muito da questão da ditadura da beleza, a pressão sobre a mulher.

"Na fase inicial da pesquisa, eu falei bastante sobre isso. Depois fui por outros caminhos, mas sempre envolvendo a visão da sociedade sobre a mulher", observa.

Por meio de esculturas têxteis e desenhos, Alessandra explora as transformações corporais femininas resultantes de cirurgias e procedimentos estéticos, estabelecendo um diálogo crítico sobre a ditadura da beleza na sociedade contemporânea.

Divulgação - Exposição "Metamorfoses Poéticas do Feminino

Inspirada por experiências acadêmicas e artísticas, a mostra explora, por meio de bordados, esculturas têxteis e livros da artista, os desafios impostos às mulheres em um mundo dominado por padrões estéticos e narrativas patriarcais.

“Este trabalho surge de uma linha tensionada entre um corpo cada vez mais idealizado pela sociedade de consumo, supervalorizado em relação à sua forma, e os processos de criação, pensamentos e conceitos relacionados à condição humana, subjetividade e identidade na contemporaneidade, com enfoque no feminino”, explica.

Arte como resistência

Divulgação - Exposição "Metamorfoses Poéticas do Feminino

Dividida em três eixos – Corpo-essência, Corpo-livre e Corpo-labirinto –, a exposição aborda desde aspectos psicológicos e íntimos até questões existenciais e sociais. 

No núcleo “Corpo-essência”, os trabalhos exploram a subjetividade feminina por meio de imagens que retratam memória, desejo e sofrimento. 

Já em “Corpo-livre”, a artista discute padrões de beleza, maternidade e feminismo, utilizando obras que misturam aquarela e técnicas têxteis. 

Por fim, “Corpo-labirinto” conecta a busca existencial feminina com a mitologia grega, remetendo ao fio de Ariadne como símbolo de liberdade e reconstrução.

Fragmentos que ressignificam

Divulgação: Fragmentos Corporais

Um dos destaques é a obra “Fragmentos Corporais”, na qual partes do corpo feminino, como seios e braços, são desconstruídas e recombinadas, provocando reflexões sobre o caos e a ordem na percepção do corpo. 

A artista utiliza materiais associados ao universo feminino, como fios e agulhas, para criar composições que sugerem novas possibilidades de existência, livres de estereótipos.

O impacto do feminismo

A mostra dialoga com os avanços dos feminismos nas últimas décadas, que deram voz às mulheres e permitiram a desconstrução de identidades opressoras. 

Inspirada em autoras como Margareth Rago, Menezes destaca a importância de questionar modelos culturais que aprisionam o feminino e, por meio da arte, promover modos de vida mais libertadores.

Arte e transformação social

“Metamorfoses Poéticas do Feminino” é uma exposição que transcende o espaço artístico para provocar um debate essencial sobre o corpo, a identidade e os desafios enfrentados pelas mulheres. Ao reunir estética e crítica social, a obra de Alessandra reafirma o papel transformador da arte em tempos de profunda reflexão.

Origens do projeto

A origem do projeto remonta a 2021, quando Alessandra, então aluna especial do mestrado, na disciplina  "Documentos de percurso- Registros e reflexões em processos criativos" ministrada por Maria Virgínia Gordilho Martins.

Intitulado “Cartas Desenhantes para Corpos Remendados”, o trabalho propunha explorar, por meio de esculturas têxteis, as transformações dos corpos femininos submetidos a cirurgias e procedimentos estéticos, além de debater a ditadura da beleza e a pressão estética sobre as mulheres.

O projeto buscava estabelecer um diálogo entre as figuras representadas e as questões contemporâneas relacionadas à obsessão com a aparência física. 

A produção incluiu bustos de mulheres em tecido, inspirados em histórias reais, além de uma série de desenhos, obras que agora integram a exposição “Metamorfoses Poéticas do Feminino”.

Em cartaz em Salvador

A exposição “Metamorfoses Poéticas do Feminino: A Arte que Questiona Estereótipos”, de Alessandra Menezes, é resultado da pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na linha de pesquisa: processos criativos em artes visuais.

Diretora novata e prestigiada

“A Substância”, dirigido por Coralie Fargeat, foi exibido na competição principal do Festival de Cannes de 2024, onde a cineasta francesa recebeu o prêmio de Melhor Roteiro.

Fargeaut iniciou a carreira no cinema trabalhando em sets nos Estados Unidos e na França. Seu primeiro longa-metragem, "Revenge" (2017), é um thriller de vingança que recebeu reconhecimento internacional e prêmios em diversos festivais de cinema independente. 

A diretora francesa é conhecida por seu estilo visual ousado e por desafiar normas sociais e estereótipos de gênero em seus trabalhos, explorando temas como o empoderamento feminino e as complexidades da natureza humana. 

Questão feminina nas telas e nos tecidos

Tanto o filme de Hollywood quanto a exposição da artista baiana utilizam suas respectivas linguagens artísticas para refletir sobre as expectativas sociais em relação ao corpo feminino e as implicações psicológicas dessas pressões. 

Ambos convidam o público a reconsiderar os padrões de beleza e a valorizar a autenticidade e a diversidade das experiências femininas.

Siga os perfis da Revista Fórum e da jornalista Iara Vidal no Bluesky

Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar