A indústria da moda contribui com aproximadamente 2,1 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em um único ano, o equivalente a 4% de todas as emissões globais. Esse número impressionante é comparável às emissões anuais de GEE da França, Alemanha e Reino Unido combinados.
Essas estimativas são baseadas em dados do Fashion on Climate de 2018, mas espera-se que o setor continue crescendo no futuro. Ou seja, se nossos esforços para reduzir o impacto da moda não forem acelerados rapidamente nos próximos 10 anos, as emissões deverão aumentar para 2,7 bilhões de toneladas por ano até 2030.
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A conta desse impacto - combinado a outros setores produtivos além da moda - chegou e o ano de 2024 tem sido marcado por eventos climáticos extremos que escancararam os impactos das mudanças climáticas no Brasil e no mundo.
Em abril, o estado do Rio Grande do Sul enfrentou o maior desastre climático da sua história, com chuvas intensas que afetaram mais de 800 mil pessoas e deixaram mais de 300 cidades em estado de calamidade.
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Poucos meses depois, os incêndios florestais alcançaram níveis alarmantes, afetando 15 milhões de pessoas em todo o país, com a fumaça chegando até São Paulo, Rio de Janeiro e o sul da Bahia. Nesse cenário de urgência, a moda precisa mudar.
Uma revolução necessária
Como parte da causa da emergência climática, a indústria da moda adota algumas parcas, tímidas, mas valorosas iniciativas para tentar mitigar práticas que geram poluição, exploração de mão de obra e consumo desenfreado.
Um desses esforços é o Fórum Fashion Revolution Brasil, realizado pela sexta vez em 2024, que emerge como um espaço pioneiro para debater soluções inovadoras e inclusivas no setor. Criado para conectar academia, ativismo, arte, mercado e sociedade civil, o evento reafirma a necessidade de uma transformação sistêmica na moda.
A tragédia do desabamento do Rana Plaza, em Bangladesh, há dez anos, inspirou a criação do movimento global Fashion Revolution. No Brasil, essa mobilização ganhou força com o Fórum, que se consolidou como um espaço seguro e disruptivo para discutir práticas afirmativas em sustentabilidade, inclusão e diversidade.
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Esta sexta edição do Fórum Fashion Revolution, realizada nesta sexta-feira (22) de novembro no Museu de Arte de São Paulo (MASP), organizou sua programação em três eixos temáticos: Raça e Gênero, Clima e Tecnologia, abordando questões centrais da sustentabilidade na moda.
Raça e Gênero: Inclusão e Justiça na Moda
O eixo temático "Raça e Gênero" explora como a moda pode ser um instrumento de inclusão e resistência cultural. Os debates destacam a invisibilização de mulheres negras e indígenas na cadeia produtiva da moda, os desafios enfrentados por trabalhadoras precarizadas e a necessidade de transformar padrões estéticos eurocentrados. Propostas decoloniais e antirracistas reforçam a importância de valorizar práticas e saberes tradicionais.
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Clima: Rumo à Regeneração Ambiental
O impacto ambiental da indústria da moda foi o foco do eixo "Clima". Artigos e debates trazem à tona a urgência de abordar questões como a contaminação ambiental, o descarte inadequado de resíduos e a necessidade de incorporar práticas regenerativas. Alternativas sustentáveis, como bioeconomia e o uso de materiais recicláveis, são apresentadas como soluções viáveis para mitigar os danos causados pela produção em larga escala.
Tecnologia: Inovação e Transparência
O eixo "Tecnologia" discute o papel das inovações digitais na transformação da moda. Entre os temas, destaques para a a aplicação de inteligência artificial, impressão 3D e materiais inteligentes para aumentar a eficiência na produção e reduzir desperdícios. Soluções tecnológicas para rastreamento de cadeias produtivas mostram a capacidade de trazer maior transparência e ética ao setor.
Publicação e Reconhecimento
Como parte do evento, foi lançado um livro digital gratuito, reunindo 50 artigos teóricos e 25 ilustrações selecionadas por um comitê científico. Essa publicação reforça o compromisso do Fórum em democratizar o acesso ao conhecimento e incentivar a produção acadêmica e artística no campo da moda sustentável.
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Educação para a transformação
Um dos desdobramentos do Fórum é a Escola de Moda Decolonial (EMD), criada para promover o pensamento crítico e livre de colonialismos na moda.
Em sua segunda edição neste ano, a EMD reuniu mais de mil alunos e consolidou uma comunidade vibrante de pensadores dedicados a repensar o setor. Muitos dos ensaios apresentados no livro digital lançado pelo Fórum têm origem nesse espaço, com ênfase em temas como racismo ambiental e justiça climática.
Prêmio Pernambucanas e Soluções Inovadoras
Pela primeira vez, o Fórum introduziu o Prêmio Fórum Fashion Revolution Pernambucanas, que reconheceu propostas práticas para enfrentar os desafios da moda.
A nova categoria "Ensaios Práticos-Soluções" destacou ideias com potencial transformador, desde novas modelagens e materiais até metodologias aplicáveis pela indústria. O vencedor recebe R$ 10 mil e uma mentoria da Pernambucanas para desenvolver sua solução.
A revolução será inclusiva ou não será
Para o Instituto Fashion Revolution, a transformação da moda passa, necessariamente, por uma abordagem racializada. O impacto das mudanças climáticas atinge de forma desproporcional mulheres negras e pobres, destacando a necessidade de justiça climática e racial. A pergunta “Qual a cor de quem fez minhas roupas?” norteia muitas das reflexões apresentadas nos ensaios, reforçando o compromisso do Fórum com uma moda que beneficie todas as partes envolvidas, da produção ao consumo.
Um chamado à ação
O Fórum Fashion Revolution 2024 deixa claro que a moda pode e deve ser uma força para o bem, promovendo não apenas soluções sustentáveis, mas também mudanças profundas em sua estrutura colonial e concentradora de riquezas. Com iniciativas como o Prêmio Pernambucanas e a Escola de Moda Decolonial, o evento reafirma seu papel como catalisador de transformações necessárias para o futuro do setor. A revolução na moda está em curso — e é inclusiva, sustentável e urgente.
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