De Baku, Azerbaijão -- O sábado, 23, foi marcado por algo inusitado na História das COP: duas delegações se retiraram das negociações sobre financiamento, que ainda estão em andamento sem um compromisso final.
A retirada foi dos debates sobre quanto e como será destinado o dinheiro para adaptação, perdas e danos de emergências climáticas e transição energética.
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Pelo acordo de Paris, os países ricos -- Estados Unidos, Canadá, a elite europeia e Japão -- pagariam a conta, uma vez que foram eles os responsáveis e principais beneficiários da Revolução Industrial, que resultou no aquecimento global.
Canadá e Suíça, no entanto, vem há tempos tramando para incluir China, Rússia, Arábia Saudita e outros países no rol dos pagadores. Pelos cálculos dos suíços, o Brasil escaparia por pouco.
O Brasil e outros países dizem que isso equivaleria a rasgar o acordo de Paris, de 2015/2016.
ONGs que esmiuçam as questões econômicas denunciam que os países em desenvolvimento, aqueles que aguardam ajuda em Baku, vão transferir U$ 400 bi em pagamento de dívida e juros em 2024 a instituições financeiras controladas pelos países do capitalismo central.
Dizem também que, em alguns casos, empréstimos do Banco Mundial para mitigar efeitos da emergência climática forçam os países mais pobres a desviar recursos da Saúde e Educação para cobrir o pagamento de juros de mercado.
Os que mais sofrem
Hoje, a Aliança das Pequenas Ilhas-Estado, formada por 39 países e 5 observadores, retirou sua delegação alegando que suas posições não estão sendo consideradas.
Apesar de terem contribuído com menos de 1% do aquecimento global, são os países mais vulneráveis à erosão costeira, intrusão da água salgada e alta das marés.
O grupo dos Países Menos Desenvolvidos, composto por 47 Nações, também se retirou dos debates em protesto.
O representante de Serra Leoa, ao deixar as negociações, explicou:
Somos os países provavelmente mais afetados pelas alterações climáticas. [...] Estamos sendo ignorados. É por isso que saímos.
Os dois grupos querem a garantia de que 30% do financiamento eventualmente oferecido pelos países ricos seja destinado a eles.
Sopapos e pontapés
A COP29 foi marcada pela ausência de delegações do mais alto nível dos Estados Unidos, Alemanha, França e União Europeia.
Houve intensa troca de acusações.
Do Azerbaijão contra o comportamento colonialista da França, cujo presidente, Emmanuel Macron, faltou.
Ele não não veio em protesto contra ação militar vitoriosa de Baku, no ano passado, contra uma região em disputa com a vizinha Armênia.
O Brasil se antecipou a outros países e já apresentou sua meta nacional de redução de emissões até 2035, levando o Greenpeace a comentar que os Ministérios de Minas e Energia e da Agricultura e Pecuária levaram a melhor no debate interno no governo Lula.
De fato, o principal estande do Brasil na COP foi marcado por um desfile de representantes do agronegócio, prometendo que mudanças tecnológicas vão tornar o campo brasileiro um exemplo para o planeta.