Países pobres deixam negociações alegando que não são ouvidos

Ainda em busca de um comunicado final por consenso

Símbolo.Presentes em todas as esquinas de Baku, os gatos, símbolos da paciência, estão sendo requisitados nos bastidores da COPCréditos: Luiz Carlos Azenha
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

De Baku, Azerbaijão -- O sábado, 23, foi marcado por algo inusitado na História das COP: duas delegações se retiraram das negociações sobre financiamento, que ainda estão em andamento sem um compromisso final.

A retirada foi dos debates sobre quanto e como será destinado o dinheiro para adaptação, perdas e danos de emergências climáticas e transição energética.

Pelo acordo de Paris, os países ricos -- Estados Unidos, Canadá, a elite europeia e Japão -- pagariam a conta, uma vez que foram eles os responsáveis e principais beneficiários da Revolução Industrial, que resultou no aquecimento global.

Canadá e Suíça, no entanto, vem há tempos tramando para incluir China, Rússia, Arábia Saudita e outros países no rol dos pagadores. Pelos cálculos dos suíços, o Brasil escaparia por pouco.

O Brasil e outros países dizem que isso equivaleria a rasgar o acordo de Paris, de 2015/2016.

ONGs que esmiuçam as questões econômicas denunciam que os países em desenvolvimento, aqueles que aguardam ajuda em Baku, vão transferir U$ 400 bi em pagamento de dívida e juros em 2024 a instituições financeiras controladas pelos países do capitalismo central.

Dizem também que, em alguns casos, empréstimos do Banco Mundial para mitigar efeitos da emergência climática forçam os países mais pobres a desviar recursos da Saúde e Educação para cobrir o pagamento de juros de mercado.

Os que mais sofrem

Hoje, a Aliança das Pequenas Ilhas-Estado, formada por 39 países e 5 observadores, retirou sua delegação alegando que suas posições não estão sendo consideradas.

Apesar de terem contribuído com menos de 1% do aquecimento global, são os países mais vulneráveis à erosão costeira, intrusão da água salgada e alta das marés.

O grupo dos Países Menos Desenvolvidos, composto por 47 Nações, também se retirou dos debates em protesto.

O representante de Serra Leoa, ao deixar as negociações, explicou:

Somos os países provavelmente mais afetados pelas alterações climáticas. [...] Estamos sendo ignorados. É por isso que saímos.

Os dois grupos querem a garantia de que 30% do financiamento eventualmente oferecido pelos países ricos seja destinado a eles.

Sopapos e pontapés

A COP29 foi marcada pela ausência de delegações do mais alto nível dos Estados Unidos, Alemanha, França e União Europeia.

Houve intensa troca de acusações.

De ambientalistas, majoritariamente de países ricos, contra os produtores de petróleo, como o próprio Azerbaijão e a Arábia Saudita.

Do Azerbaijão contra o comportamento colonialista da França, cujo presidente, Emmanuel Macron, faltou.

Ele não não veio em protesto contra ação militar vitoriosa de Baku, no ano passado, contra uma região em disputa com a vizinha Armênia.

Houve críticas de organizações que monitoram a COP contra a forte presença de lobistas, inclusive na delegação do Brasil.

O Brasil se antecipou a outros países e já apresentou sua meta nacional de redução de emissões até 2035, levando o Greenpeace a comentar que os Ministérios de Minas e Energia e da Agricultura e Pecuária levaram a melhor no debate interno no governo Lula.

De fato, o principal estande do Brasil na COP foi marcado por um desfile de representantes do agronegócio, prometendo que mudanças tecnológicas vão tornar o campo brasileiro um exemplo para o planeta.

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