Albert Einstein

A visita de Einstein ao Brasil — e seu manuscrito perdido

A visita, que durou apenas duas semanas, foi parte de uma viagem mais extensa pela América Latina, e o documento escrito por Einstein no Brasil permaneceu "perdido" pelas próximas sete décadas

Escrito em História el
Mestranda em Ciência Política e bacharel em Relações Econômicas Internacionais pela UFMG, já foi treinee de Ciência e Saúde da Folha de S. Paulo e escreve sobre Ciência e Tecnologia para a Revista Fórum. Tem interesse por temas de geopolítica e economia internacional.
A visita de Einstein ao Brasil — e seu manuscrito perdido
Albert Einstein. Domínio Público

Em março de 1925, Albert Einstein desembarcava no Brasil. A visita, que durou apenas duas semanas, foi parte de uma viagem mais extensa pela América Latina, que incluiu passagens por Buenos Aires e Montevidéu, organizadas com o apoio de instituições judaicas, científicas e diplomáticas locais, como a Sociedade Kaiser Wilhelm.

O físico alemão veio ao Brasil apresentar os avanços da ciência alemã, e foi recebido com homenagens, honrarias de Estado, jantares e encontros com personalidades da elite cultural e científica da época.

O marco da visita foi sua comunicação histórica à Academia Brasileira de Ciências (ABC), realizada em 7 de maio de 1925.

Curiosamente, durante sua fala à Academia, Einstein não abordou diretamente sua famosa Teoria da Relatividade. Em vez disso, optou por discutir um tema considerado mais relevante para a comunidade científica naquele momento: a situação da teoria da luz.

Em sua exposição, Einstein se afastou da linguagem matemática para dialogar com um público mais amplo e, partindo da física clássica, discutiu o papel de conceitos da teoria ondulatória e dos “quanta” (a menor quantidade de qualquer grandeza física envolvida numa interação).

Ele traçou um paralelo entre a teoria corpuscular da luz e a teoria da radiação desenvolvida por Niels Bohr, Hendrik Kramers e John Clarke Slater. Foi o próprio Einstein, aliás, quem primeiro introduzira, ainda em 1905, o conceito de “fóton” (a partícula elementar da radiação eletromagnética, inclusive a luz).

No entanto, o documento que Einstein preparou, naquele mês de março, para sua apresentação à Academia, não foi incluído em sua bibliografia oficial e, por muito tempo, sequer foi traduzido para o português.

Datado de 7 de maio de 1925 e assinado por Einstein, o manuscrito — que havia sido escrito por ele em alemão — foi “perdido” da vista pública, e só foi redescoberto cerca de sete décadas depois. 

Albert Einstein durante visita ao Museu Nacional, 1925.
Créditos: Domínio Público

Intitulado Observações sobre a situação atual da Teoria da Luz, nele, o físico discute suas ideias sobre o fóton, a “matéria” da luz, e os resultados (naquela época, ainda não conclusivos) acerca da teoria da natureza ondulatória da radiação luminosa, defendida por Bohr, Kramers e Slater. Hoje, a tradução do manuscrito pode ser encontrada nos arquivos da revista Ciência Hoje (volume 21, número 124, de setembro/outubro de 1996). 

No Brasil, ainda no final de março, Einstein visitou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, almoçou no famoso Copacabana Palace Hotel e elogiou o país ao conversar com um jornalista:

“O problema que minha mente formulou foi respondido pelo luminoso céu do Brasil.”

Após a primeira passagem pelo Rio de Janeiro, Einstein seguiu para a Argentina e, em seguida, para o Uruguai, em uma viagem que durou mais de um mês. Retornou ao Brasil no início de maio.

Hospedou-se no Hotel da Glória e percorreu vários pontos turísticos da cidade, como o Pão de Açúcar, o Corcovado e a Floresta da Tijuca.

Em seu diário, fez referências às paisagens e à flora brasileiras, que “superam os sonhos das mil e uma noites”. Também elogiou a “deliciosa mistura étnica das ruas” e comentou sobre a “influência do clima” — quente e úmido — no comportamento das pessoas.

Durante sua estadia, visitou ainda o Instituto Oswaldo Cruz, o Observatório Nacional, o Museu Nacional e o Hospital dos Alienados.
Einstein deixou o Rio de Janeiro no dia 12 de maio, em viagem de volta à Europa.

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