SHOW DE HORRORES

Governo Trump avalia reality show onde imigrantes competem pela cidadania

Proposta prevê desafios culturais e viagem pelo país, com finalista recebendo naturalização

Donald Trump como apresentador de O Aprendiz
Governo Trump avalia reality show onde imigrantes competem pela cidadania.Donald Trump como apresentador de O AprendizCréditos: NBC
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O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS) está considerando uma proposta inusitada: um reality show no qual imigrantes competiriam entre si pela tão sonhada cidadania estadunidense.

No contexto atual da política de Washington, o absurdo até faz sentido. O presidente Donald Trump ganhou destaque como apresentador do reality show The Apprentice (O Aprendiz), que estreou em 2004 na NBC.

O programa de competição empresarial apresentado por Trump reunia candidatos que disputavam uma vaga de alto escalão em suas empresas, enfrentando desafios semanais de negócios. O atual presidente, no papel de mentor e juiz, eliminava participantes com sua icônica frase “You’re fired!” (“Você está demitido!”).

O formato, que combinava empreendedorismo e estratégia, ajudou a consolidar a imagem pública de Trump como um empresário durão e carismático, ampliando sua fama muito além do setor imobiliário. O sucesso do programa foi fundamental para impulsionar sua visibilidade e preparar o terreno para sua campanha presidencial em 2016.

A informação sobre a gincana por cidadania estadunidense foi inicialmente divulgada pelo Daily Mail e confirmada pelo Washington Post, colocando em debate uma abordagem inédita e controversa para o processo migratório.

Como vai funcionar The American

Idealizado por Rob Worsoff, roteirista e produtor canadense conhecido por programas como Duck Dynasty (A&E) e Millionaire Matchmaker (Bravo), o programa provisoriamente chamado The American colocaria doze imigrantes para competir em provas que exploram a história e a cultura dos Estados Unidos.

Os participantes chegariam de barco à Ilha Ellis — símbolo histórico da imigração dos EUA — e viajariam pelo país em um trem chamado “The American”, enfrentando desafios como garimpar ouro em São Francisco, competições tradicionais de rolamento de troncos em Wisconsin e montagem de um Ford Modelo T em Detroit.

No episódio final, o vencedor seria naturalizado oficialmente nos degraus do Capitólio, em Washington, em uma cerimônia solene. O formato ainda prevê que imigrantes que possam pagar tenham a opção de adquirir o green card — o visto de residência permanente — mediante pagamento direto, evidenciando uma faceta mercadológica do acesso à cidadania.

A porta-voz do DHS, Tricia McLaughlin, informou que a proposta está em fase inicial de avaliação, sem aprovação ou rejeição formal, e que a secretária de Segurança Interna, Kristi L. Noem, ainda não analisou o projeto.

Diferente de Jogos Vorazes

Apesar disso, Worsoff afirmou ter recebido retorno positivo da agência e estar em negociações preliminares com redes de televisão. A produção pretende contar com celebridades naturalizadas no país, como Sofia Vergara, Ryan Reynolds e Mila Kunis, para apresentar o programa.

Worsoff destacou que o projeto não tem relação com o romance distópico Jogos Vorazes, onde os competidores lutam até a morte, ressaltando que “não é como se, se você perder, será enviado de volta de barco para fora do país”.

Em suas palavras, a intenção é celebrar o processo migratório e promover um debate nacional sobre o que significa ser estadunidense, “pelos olhos das pessoas que mais desejam isso”.

Repressão migratória

Esse reality show surge em um momento de forte repressão migratória: até abril de 2025, a administração Trump havia detido mais de 113 mil imigrantes e deportado cerca de 100 mil. O governo também lançou um programa que oferece US$ 1 mil para imigrantes deixarem o país voluntariamente.

Paralelamente, a mesma administração testa um programa denominado “Gold Card”, que oferece vistos de residência permanente a bilionários que paguem US$ 5 milhões, numa tentativa de substituir o atual visto EB-5. Essa medida gerou críticas por facilitar o acesso de oligarcas e indivíduos ricos, sem a exigência de investimentos que gerem empregos, além de enfrentar barreiras legais por não ter aprovação do Congresso.

A política migratória de Trump reflete a mercantilização crescente do processo migratório nos EUA e a espetacularização da vida pública. Transforma o sonho da cidadania em um show televisivo e um produto para venda, enquanto milhões enfrentam barreiras sociais e políticas para acessar direitos básicos.

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