Desde as eleições presidenciais que deram ao republicano Donald Trump um novo mandato à frente da Casa Branca, as criptomoedas têm vivido um momento de alta nos Estados Unidos. A principal delas, o bitcoin, atingiu um pico histórico, indo de aproximadamente US$ 69 mil no dia anterior ao pleito de 5 de novembro para quase US$ 100 mil.
A animação deste mercado não é à toa. Em julho, o hoje presidente eleito fez promessas ao setor em seu discurso na Bitcoin Conference 2024, realizada em Nashville. "Esta tarde, estou expondo meu plano para garantir que os Estados Unidos sejam a capital cripto do planeta e a superpotência Bitcoin do mundo. E faremos isso", disse ele.
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As expectativas do mercado é que a gestão de Trump seja bem distinta da administração de Joe Biden, que teve um enfoque mais regulatório. Os gigantes das criptos alegam que o democrata teria dificultado o crescimento do mercado de moedas virtuais por conta de ações de fiscalização realizadas pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Securities and Exchange Commission, SEC na sigla em inglês). Agora, a história tenderia a mudar.
A SEC ainda não tem um titular escolhido, mas o republicano já anunciou a escolha de dois membros relevantes do seu gabinete conhecidos por serem fãs de ativos digitais. Howard Lutnick, para o Departamento de Comércio, e Scott Bessent para o Tesouro.
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"Trump até sugeriu que os EUA podem um dia pagar sua dívida nacional em criptomoeda. Muitos dos futuros membros do gabinete de Trump e do círculo interno são supostamente pró-cripto , incluindo Robert F. Kennedy Jr., que disse que detém 'a maior parte' de seu patrimônio líquido em bitcoin", aponta o professor de Ciência Política da University College London (UCL), Thomas Gift, em artigo no The Conversation.
Gift destaca que, nos EUA, os republicanos abraçaram as criptomoedas como parte de uma agenda de “liberdade” econômica, enquanto muitos democratas de alto escalão têm posturas mais hostis. A senadora de Massachusetts Elizabeth Warren, por exemplo, foi descrita como realizando uma “cruzada anti-criptomoeda”. Mas há democratas, como o senador de Nova York Chuck Schumer, que buscaram reduzir as restrições federais à negociação de criptoativos.
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Na verdade, a força do dinheiro vivo falou mais alto. Os principais super PACs (Comitês de Ação Política) da área investiram US$ 131 milhões para apoiar não apenas Trump, mas dezenas de candidatos pró-criptomoedas que disputavam o parlamento. Um monitoramento feito pelo grupo Stand with Crypto apontou que 274 candidatos pró-criptomoedas foram eleitos para a Câmara e 20 para o Senado. embora a ampla maioria seja de republicanos, há também democratas no grupo.
Conflito de interesses
Além da nomeação de pessoas simpáticas aos ativos digitais em cargos importantes, também se especula a instituição de um "czar" para criptomoedas, um funcionário da Casa Branca para supervisionar a política de cripto. Em tese, ele estaria mais focado no engajamento político do que na formulação de políticas, servindo como uma espécie de intermediador com reguladores federais ou agências independentes.
Ainda que a maior parte do setor veja com bons olhos o empenho, os conflitos de interesse dentro da administração e poderiam representar sérios riscos. O próprio Trump apoia um projeto de cripto, o World Liberty Financial. Matéria do Bank Info Security indica que vários especialistas e ex-funcionários federais, a maioria falando anonimamente, expressaram preocupações de que o incentivo à criptomoeda por parte do futuro presidente possa acabar corroendo a confiança pública de uma indústria em crescimento.
"Não tenho certeza do porquê precisamos de um czar além de excitar e recompensar os proponentes das criptomoedas", disse Roger Grimes, especialista em defesa de dados da KnowBe4, ao Bank Info Security. Ele observou que a Casa Branca não tem czares para outros ativos de alto valor, como imóveis residenciais, cujo mercado é avaliado em US$ 47 trilhões, ou swaps de inadimplência de crédito, que totalizam US$ 4,3 trilhões.
No mesmo sentido, Gift também tem dúvidas sobre o que pode acontecer em uma errática gestão republicana. "Se 2024 foi a 'eleição cripto', a grande incógnita é se Trump realmente defenderá os ativos digitais ou acabará com as esperanças (e carteiras) dos bitcoiners em todos os lugares", afirma.
