MITO

O que você aprendeu sobre o paladar pode estar errado

Estudo do início do século XX foi mal interpretado e criou o mito do 'mapa da língua'. Saiba o que a ciência realmente diz sobre o paladar

Créditos: imagem gerada por IA
Escrito en TECNOLOGIA el

Você provavelmente já viu aquele famoso desenho que associa gostos a regiões específicas da língua: doce na ponta, amargo no fundo, salgado e azedo nas laterais. Mas essa imagem amplamente difundida está errada — e foi baseada em um mal-entendido de uma pesquisa científica feita há mais de 100 anos.

A origem do mapa da língua

No início do século XX, o pesquisador David Hänig, da Universidade de Leipzig, realizou um estudo sobre a sensibilidade da língua aos quatro sabores básicos: doce, salgado, azedo e amargo. Ele aplicou substâncias específicas em diferentes regiões da língua e observou variações sutis na intensidade da percepção.

Essas variações, no entanto, foram interpretadas de forma errada. Hänig jamais afirmou que os sabores estavam confinados a áreas fixas da língua. A simplificação exagerada veio depois, com traduções imprecisas e uma ilustração publicada em 1912 que transformou nuances científicas em zonas absolutas.

Como o mito se espalhou

A ideia de que cada gosto pertence a uma área específica da língua ganhou força graças à simplicidade visual do mapa e à sua repetição em livros escolares e materiais educativos. Mesmo sem base científica sólida, o diagrama se tornou um "fato" na educação popular.

Menos de uma década após o estudo de Hänig, jornais já propagavam a noção incorreta. O mito foi reforçado por ilustrações que ignoravam dados fundamentais do estudo original.

O que a ciência diz hoje

Atualmente, sabe-se que toda a língua é capaz de perceber todos os sabores básicos, embora algumas regiões sejam ligeiramente mais sensíveis. Além disso, novos gostos têm sido reconhecidos, como o umami — e há debates sobre outros, como o gosto da gordura ou metálico.

O caso do mapa da língua é um lembrete de como explicações simplificadas podem nos levar a interpretações erradas sobre o corpo humano. Manter o senso crítico é essencial, especialmente quando uma teoria parece boa demais para ser questionada.

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