Antes de ser preso preventivamente pelo suposto envolvimento na morte do advogado Roberto Zampieri, o coronel da reserva Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas publicou uma série de vídeos autoincriminatórios onde falava sobre organização de grupos golpistas contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio do seu canal na plataforma YouTube, chamado Frente Ampla Patriótica.
Ao todo, são 101 vídeos publicados até sua prisão, e o canal conta com 1,43 mil inscritos. Um dos vídeos mais alarmantes, publicado em junho de 2023, mostra uma espécie de “tutorial” de como organizar um agrupamento para enfrentar o governo, poucos meses após os ataques golpistas do 8 de janeiro. Caçadini inclusive aponta que já existiriam frentes organizadas nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
“Patriotas, boa tarde. Os grupos já estão montados nesses estados [MT, MS, GO], fomos presencialmente e já temos grupos espalhados no Brasil inteiro”, afirmou ele. “Massa de manobra é o que precisamos para enfrentar esse governo”, completou.
Veja o vídeo completo:
De acordo com um processo que tramita na Justiça Militar, os vídeos divulgados pelo coronel da reserva disseminam “ideias golpistas” e difamam a atuação das Forças Armadas (FA).
"Os elementos e provas colhidas indicam que o fim pretendido pelo acusado seria o de incitar, publicamente, ambiente de animosidade entre as Forças Armadas e os Poderes constituídos", aponta decisão da Justiça Militar de outubro de 2024.
'Nós tivemos um tenentismo, quem sabe haja um coronelismo'
Em outro vídeo, intitulado "Caminho da Mudança!", ele fala sobre "encorajar" integrantes das Forças Armadas e também sobre trazer policiais para a sua "frente patriótica".
"Realmente, as Forças Armadas não é (sic) o alto comando, as Forças não são os altos comandos. A Força Armada é de Estado, é permanente, existe uma formação toda, e com certeza ali nós temos excelentes oficiais, excelentes sargentos, excelentes praças, é fundamental isso aí. Então, nós devemos realmente encorajá-los, e quem sabe, como aquele Lisboa está falando aí, não existe um general como os 64, quem sabe surge alguém, né?", diz ele. "Nós tivemos um tenentismo, quem sabe haja um coronelismo, alguma coisa assim (...) Então, nós devemos trazer esse público conservador das Forças Armadas, que nós não, como o pessoal fala, não 'melanciaram', para o nosso lado."
E ele segue. "Trazemos também os policiais militares, os policiais civis, os bombeiros para o nosso lado. Isso é fundamental, e isso nós temos que começar a construir agora". "Isso é importante, então vamos convidar policial militar, policial civil, policiais federais, toda aquela tropa do exército que foi engajada, que saiu fora, reservista, veterano, associação da reserva, vamos chamar todo mundo. (...) Nós não vamos para o combate, mas também nós devemos estar prontos para ir para a rua para proteger o nosso movimento patriótico."
Chilique contra minorias e LGBTQIAP+
Além de organizar o guia de como montar uma milícia para atacar o governo do presidente Lula, o coronel da reserva ainda deu um “chilique” na plataforma, quando abordou a parada LGBTQIAP+. Na ocasião, ele afirmou que as minorias possuem “problemas psicológicos”, que teriam “nascido de proveta” e que haveria “ideologia de gênero” sendo imposta no país.
“É preto, viado, sapatão, bissexual, travesti… Esse pessoal tem problemas psicológicos. (...) Só podem ter nascido de proveta. O Brasil não é deles, é nosso. Tão querendo colocar ideologia de gênero na cabeça das crianças”, choramingou o coronel.
Veja o momento:
Entenda o caso do Coronel Caçadini
Caçadini está preso preventivamente desde janeiro de 2024, poucos meses após a morte do advogado Roberto Zampieri em 2023.
O coronel da reserva é apontado como o financiador da execução, com um suposto pagamento de R$ 20 mil ao executor para efetuar o assassinato. Segundo investigação da Polícia Federal, o celular de Caçadini contribuiu para provar o contato com o mandante, Anibal, e com o intermediário instrutor de tiro, Hedilerson Fialho Martins Barbosa, dono da arma usada para executar o advogado.
Ao todo, cinco pessoas estão presas e outras quatro são investigadas por integrarem o grupo “Comando C4” (ou CCC), como é conhecido o grupo Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos.