RIO DE JANEIRO

Quatro PRFs agora são réus pela execução da estudante Anne Caroline Nascimento Silva

O crime aconteceu em junho de 2023 num acesso à Linha Vermelha, no Rio de Janeiro; Família da vítima alega que fuzis dispararam antes que o companheiro da vítima, que dirigia, pudesse parar o carro após ordem dos policiais

PRF no Rio de Janeiro.Créditos: Divulgação/Governo do Estado do Rio de Janeiro
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Os quatro agentes da Polícia Rodoviária Federal envolvidos na morte da estudante Anne Caroline Nascimento Silva (23) agora são réus na Justiça Federal. O crime ocorreu em junho de 2023, quando a vítima passava de carro com o companheiro num acesso da Linha Vermelha, no Rio de Janeiro, e o casal teve o veículo alvejado. Supostamente não teriam parado para a blitz dos policiais.

O Ministério Público Federal denunciou os quatro PRFs, que agora são réus, e pediu as prisões preventivas deles. A Justiça Federal, no entanto, apesar de atender à denúncia, divergiu quanto à prisão preventiva.

De qualquer maneira, o quarteto foi afastado das suas funções na corporação, teve suas armas retidas e não poderá passar por transferências enquanto correm as investigações. Também estão proibidos de manter qualquer contato com testemunhas e parentes das vítimas, bem como de se aproximar da viatura que usavam no dia do crime. O veículo ainda passará por perícia.

Thiago da Silva de Sá e Jansen Vinicius Pinheiro respondem por homicídio e lesão corporal culposa – Sá é o agente que efetuou o disparo mortal contra Anne Caroline. Jansen, por sua vez, teria incentivado o comportamento letal do colega.

Os demais agentes, Diogo Silva dos Santos e Wagner Leandro Rocha de Souza, foram denunciados por fraude processual. Eles são acusados de violar o local do crime e os veículos envolvidos, tendo assim violado o dever das suas funções.

O que aconteceu

Na noite de 17 de junho 2023, Anne Caroline Nascimento Silva, de apenas 23 anos, foi morta a tiros por um agente da Polícia Rodoviária Federal durante uma abordagem na Rodovia Washington Luiz, chegando no Rio de Janeiro.

De acordo com os agentes envolvidos no crime, havia chegado a informação de que um carro estava em alta velocidade fazendo manobras perigosas na pista. Eles então se prepararam para a abordagem em um local de acesso à Linha Vermelha e, quando deram a ordem, o motorista teria jogado o veículo em cima da viatura e tentado fugir.

Com essa justificativa, os agentes então dispararam contra o veículo e atingiram de forma fatal a jovem Anne Caroline. Em choque, o motorista saiu do veículo e informou que sua companheira tinha sido atingida.

Um dos PRFs então assumiu o volante do carro da vítima e, seguido pela viatura, a foi levou para o hospital Getúlio Vargas, no bairro da Penha, localizado na Zona Norte do Rio. Mas Anne Caroline não resistiu aos ferimentos. A vítima era estudante de enfermagem e trabalhava vendendo celulares.

“Era uma jovem cheia de sonhos”, disse Janete Bezerra do Nascimento, tia da vítima, ao jornal O Globo.

A Polícia Federal (PF) então informou em nota que instaurou inquérito para apurar os fatos e que já notificou a corregedoria da PRF.

Marido revela detalhes do assassinato

Dias depois, em 19 de junho, Alexandre Roberto Ribeiro Mello (32), marido da vítima, falou com a imprensa e revelou detalhes do ocorrido. “Foi um assassinato. Ele descarregou o fuzil todo no carro. Os furos estão lá, os tiros estão todos no meu carro. Foi execução”, afirma. Ao todo, foi apurado que os agentes dispararam 10 tiros.

Por volta das dez da noite, Alexandre e Anne voltavam para casa do jantar em que comemoraram 7 anos de relacionamento, quando foram abordados pela PRF próximos de uma saída para a Linha Vermelha.

Segundo Alexandre e a família de Anne, o casal parou para os policiais que, mesmo assim, agiram com crueldade e atiraram contra o casal. Ele conta que quando viu a ordem de parada estava na pista central da rodovia e, então, deu seta para a direita e se preparava para parar o carro quando começaram os tiros. Anne foi atingida antes mesmo que ele pudesse parar o carro.

“Eles desceram e entraram em desespero, todos eles. Me culparam como se eu tivesse apertado o gatilho. ‘A culpa é sua, seu merda’, disseram. Me xingaram de um monte de coisas”, relata.

Alexandre explica que em seguida os próprios agentes conduziram o seu veículo até o hospital. No trajeto, Anne pediu para não morrer. “Minha esposa faleceu, ela não volta mais. Eu quero justiça contra ele. Vou até o final para ela ter a justiça merecida. Errou tem que pagar, matou tem que ser preso”, desabafou.

A versão dos agentes

Os agentes contestam a versão e alegam que Alexandre não obedeceu a ordem de parada.

Em depoimento à PF, o agente Thiago da Silva de Sá afirma que disparou oito tiros na direção do pneu do carro. Também alega que ouviu tiros, ainda que não tenha explicado melhor esse detalhe da história, e que por isso se preparou para uma abordagem "de risco". Foi ele que disparou contra o veículo e atingiu de forma fatal a jovem. Em choque, o motorista então teria parado e saído do veículo, anunciando que sua companheira tinha sido atingida.

Outra vítima

A ação da PRF deixou outra vítima no mesmo horário e local. O casal José Vitório e Cláudia Maria da Silva dos Santos voltava de uma festa de aniversário quando foi surpreendido pelos disparos. Sem ter muito para onde ir, aceleraram para passar o mais rápido possível por ali e chegarem a uma área segura. Mas uma das balas atingiu o veículo, de trás para frente, e atravessou o corpo da mulher de 54 anos.

Por sorte, conta José Vitório, uma ambulância passava por ali naquele momento e prestou socorro. Cláudia segue internada em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e apresenta quadro estável. Médicos disseram que foi um milagre a vida de Cláudia ter sido salva, uma vez que por poucos centímetros a bala disparada pela PRF não lhe acertou o coração.

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